quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013


Resumo de Geografia: Aulas 8 a 15.

Resumo elaborado a partir da bibliografia:
Geografia na educação 2. v. 1 / Carla de Brito Reis, Maria Jaqueline Elichier - Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010.

Aula 08-
A questão agrária
nas últimas décadas, os países desenvolvidos e industrializados, incluindo o Brasil, intensificaram a produção agrícola por meio do avanço intenso da modernização das técnicas produtivas, que lhes permitiu, ao mesmo tempo, economizar mão-de-obra, aumentar a produtividade e obter um enorme volume de produção que não só abastece o mercado interno como é responsável por grande parcela dos produtos que circulam no mercado mundial.
Em países como o Brasil, as regiões agrícolas que abastecem o mercado externo foram as que mais se modernizaram. A conseqüência mais direta foi a concentração de terra, que resultou numa acentuação das migrações do campo para a cidade e no inchaço das periferias urbanas.
A modernização da agricultura brasileira não significou a modernização das relações sociais de produção e das relações de trabalho, relações essas que perpassam o campo e a cidade. Assim, falar em modernização significa referir-se ao aprimoramento das técnicas, pura e simplesmente, ou seja, significa dizer que a modernização aconteceu na substituição do trabalho humano por máquinas, no uso da biotecnologia para o desenvolvimento de sementes e mudas mais aprimoradas e no uso de insumos ditos modernos (agrotóxicos, corretivos e fertilizantes).
a modernização realmente possui duas faces
a tão propagada modernização, que produziu efeitos quantitativos maravilhosos para a nossa produção agrícola, manteve, em contrapartida, relações sociais de produção nada modernas, como o subemprego no campo, a baixa produtividade em inúmeras propriedades e a expansão da pobreza rural.
A modernização da nossa agricultura ajudou a produzir as metrópoles, industrializou e mundializou a nossa economia nacional, internacionalizou a burguesia nacional, mas prosseguiu também produzindo a exclusão dos pobres na cidade e no campo. Essa exclusão leva à miséria parte expressiva dos camponeses e trabalhadores brasileiros.
A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA
a modernização agrícola do país teve efeitos positivos, elevando os índices produtivos da nossa agricultura, mesmo que o custo social e ambiental dessa modernização tenha sido alto.
O Brasil tem posição importante no mercado mundial como exportador de alguns produtos agropecuários, como soja, suco de laranja, café, açúcar, algodão, gado bovino, suínos e aves, todas praticadas por grandes e modernos estabelecimentos agrícolas.
nas últimas três décadas, de investir nas culturas voltadas à exportação, representadas pelo setor do agronegócio, fez com que o país se tornasse dependente da importação de vários produtos, inclusive da cesta básica, como é o caso do trigo e do arroz, e até mesmo os produtos em que ele é campeão de exportações, caso da soja.
a opção dos nossos governantes tem sido a de oferecer mais subsídios aos produtos agrícolas voltados à exportação, quase sempre cultivados em latifúndios, que funcionam como empresas agrícolas, em detrimento da produção voltada para o mercado interno, normalmente obtida em médias e pequenas propriedades, pela agricultura familiar.
Ao optarem por modernizar parte do campo brasileiro (lembre-se de que a modernização foi excludente porque atendeu, em sua grande maioria, aos grandes proprietários de terra), os governantes brasileiros auxiliaram no aprofundamento de uma questão social que já é histórica: a questão agrária. Modernizaram-se as relações técnicas, enquanto as relações sociais continuaram, em grande parte, tão arcaicas quanto há cem anos. Ou você acha que a existência de bóias-frias (aqueles que não têm garantias empregatícias) e de milhares de sem-terras (aqueles que foram expulsos ou nunca tiveram acesso a ela) é sinônimo de modernas relações sociais de trabalho?
nosso país precisa de uma política de desenvolvimento rural que vise uma reforma agrária efetiva, que fortaleça a agricultura familiar e que incentive todas as atividades que possam gerar trabalho e renda no campo e, por conseqüência, resolva o problema do êxodo rural e do crescimento da pobreza urbana.
Mas mesmo todos os resultados sociais mostrados em centenas de anos de história, marcados pela opção da manutenção da concentração das propriedades, da manutenção da opção pela monocultura e pela mecanização do campo, não foram suficientes para elevar a agricultura familiar à categoria de prioritária na economia brasileira, sendo que os planos de formulação de políticas agrícolas são sempre colocados numa posição secundária.
Entre as décadas de 1950 e 1980, a monocultura e a mecanização foram estimuladas em todas as políticas governamentais criadas como base para o modelo de desenvolvimento e crescimento econômico. Os resultados nós já citamos: concentração da terra, expulsão dos trabalhadores rurais e aumento da pobreza nas cidades, resultado do movimento migratório rural-urbano.
Nas cidades, esses ex-trabalhadores rurais formaram um contingente enorme de trabalhadores urbanos, desempregados ou mal remunerados, que passaram a enfrentar condições de vida lastimáveis nas grandes periferias urbanas.
Se a opção desse momento de nossa história tivesse sido realizar a reforma agrária, dando prioridade à agricultura familiar, sobretudo nas décadas em que ainda tínhamos uma população predominantemente rural,
A agricultura familiar mostra superioridade e eficiência se comparada à agricultura patronal, à do agronegócio. No entanto, sua importância vai além da produção e da relevância econômica. É, sobretudo, social.
é nítida a eficiência da agricultura familiar mesmo quando está em desvantagem em relação à agricultura patronal no que se refere ao acesso aos auxílios governamentais, como, por exemplo, o crédito agrícola.
A superioridade da agricultura familiar se expressa no abastecimento alimentar, na distribuição de riqueza e na geração de
empregos. Entretanto, as políticas governamentais orientadas pelo ideário neoliberal têm resultado no aniquilamento dos pequenos produtores, no favorecimento da grande produção, na deterioração das condições de vida dos trabalhadores e no aumento da concentração fundiária.
a realidade espacial do país, como vimos, é fruto de um longo processo de desenvolvimento e está intimamente relacionada à forma como a propriedade da terra vem sendo tratada, desde os primórdios de nossa história.
MAS QUAL O VERDADEIRO CARÁTER DA REFORMA AGRÁRIA?
Para ser eficiente e efetiva, a reforma agrária, como política governamental, deve se constituir numa política que seja voltada para alterar as bases do atual modelo de desenvolvimento. Deve ser uma política destinada a retomar o crescimento, com garantia de segurança alimentar e que se baseie na agricultura familiar.
A luta pela Reforma Agrária deve, sobretudo, pautar-se em questionamentos sobre a modernização agrícola, a qual não é vista como tão bem-sucedida assim, e na criação de alternativas produtivas que sejam mais equilibradas, social, econômica e ambientalmente. Porque a atual lógica produtiva que se segue é ecologicamente insustentável, socialmente perversa e economicamente cara. A reforma agrária deve ser pensada como parte de um conjunto de reformas que abarque os mais diversos setores – financeiro, industrial, tecnológico, educacional etc. – e redirecione o modelo de desenvolvimento, para que este possa ser efetivamente mais democrático, por representar o interesse e a luta dos setores populares.
REFORMA AGRÁRIA: POR QUE, COMO E PARA QUEM?
1– É a forma mais barata de gerar emprego e renda para a população excluída da modernização, além de combater os efeitos nefastos da globalização e os efeitos perversos do capitalismo. 2– É necessária para melhorar o perfi l da renda no país, na democratização do capitalismo brasileiro, na segurança alimentar e na sustentação de uma nova era de crescimento econômico. Deve ser acompanhada de uma profunda alteração da política agrícola, direcionando-a para o apoio ao SETOR REFORMADO. 3– É um passo na direção da construção de um novo modelo de sociedade no país. A reforma agrária é encarada como um processo amplo que deverá abarcar todo o campo brasileiro e todas as categorias de agricultores.
Atualmente existem, espalhados pelo Brasil, inúmeros acampamentos de sem-terras. Essa forma de organização, em que as pessoas passam privações de todos os tipos, representa os anseios de uma parcela signifi cativa da sociedade que vê a possibilidade do acesso à terra como a grande esperança de uma vida melhor. É para isso que elas lutam. Para que a reforma agrária se realize e lhes traga esperanças de uma vida melhor.
OS ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁRIA
A constituição dos assentamentos significa a abertura de novos horizontes de vida e de trabalho, e por isso é fundamental que a política pública acompanhe o sem-terra desde a sua chegada à terra até a sua implantação definitiva. O assentamento é apenas um ponto de partida para novas demandas daqueles que tiveram acesso à terra e procuram nela se viabilizar econômica e socialmente, e o poder público precisa estar presente.
Inúmeras experiências de assentamentos rurais, que nada mais são do que experiências de reforma agrária, já realizados no Brasil indicam que é possível fazer uma reforma agrária ampla e irrestrita, e que esta produzirá os frutos sociais esperados pela grande maioria da sociedade brasileira.
É necessário que o Estado esteja pronto para assumir seu verdadeiro papel, que é o de realizar efetivamente a reforma agrária, que começa com o acesso à terra e continua na constituição da infra-estrutura necessária ao assentado, para que ele se mantenha nela, tais como políticas de crédito agrícola, acesso à educação e saúde rurais, estradas, energia elétrica etc.
Os conflitos e a violência no campo prosseguem, porque há uma luta sem trégua e sem fronteiras travada pelos camponeses e trabalhadores do campo por um pedaço de chão e contra as várias formas de exploração de seu trabalho.
Reforma agrária
significa transformar a sociedade brasileira, criando um novo projeto de sociedade, que seja mais justo e equilibrado na divisão de suas riquezas, que produza mais trabalho, que seja mais coerente na utilização dos recursos de seu território e do planeta. A reforma agrária no Brasil é uma questão de se fazer justiça com milhares de seus filhos que vivem uma discriminação histórica: a não-possibilidade de acesso ao trabalho, que lhes traga dignidade.
Aula 09- A concentração e a dispersão da indústria no Brasil
A CONCENTRAÇÃO INICIAL DA ATIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL
A cidade de São Paulo, já nas primeiras décadas do século XX, transformou-se no principal pólo industrial do país. A economia cafeeira de exportação gerou as condições para o seu arranque industrial. Foram vários os fatores que levaram São Paulo a alcançar essa posição:
• A localização geográfica estratégica, pois situava-se no nó de ligação entre o leque de ferrovias que se abria para o oeste cafeeiro e o porto de Santos.• O fato de ser o centro dos negócios de exportação e importação e das atividades bancárias, atraindo capitais e empresários investidores.
• A chegada dos imigrantes, fato que gerou uma classe operária e também um mercado consumidor numeroso, constituído por trabalhadores italianos e espanhóis.
• O crescimento econômico do interior, com o café, que abriu mercado consumidor para os produtos industriais que começaram a ser fabricados.
São Paulo, por possuir as condições favoráveis de energia elétrica, transportes, mercado consumidor, mão-de-obra qualificada, tanto na capital quanto nos municípios vizinhos a ela, fez parte do planejamento governamental, na década de 1950, como a área ideal para se criar um grande pólo de desenvolvimento, o qual, posteriormente, iria se irradiar, contagiando outras regiões do país.
No pós-guerra, a indústria que já tinha se instalado na cidade de São Paulo ultrapassou os limites do município, fazendo surgir centros industriais de grande porte na vizinhança, ao longo dos eixos rodoviários que substituíram as linhas férreas e que agora atraíam as novas fábricas que estavam se instalando.
O seu crescimento industrial foi impulsionado por fatores históricos diferentes dos de São Paulo. No início do século XX, a cidade era a capital do país e abrigava o maior porto marítimo nacional. Contava com mais de um milhão de habitantes, um mercado consumidor
apoiado pela aglomeração urbana e pelos atrativos oferecidos pela presença dos órgãos do governo e das empresas estatais. A princípio, como em São Paulo, a indústria localizou-se ao longo das linhas férreas, na zona norte da cidade, enquanto na zona sul a orla litorânea passou a abrigar os bairros residenciais de alta renda.
As relações mantidas entre as duas cidades, São Paulo e Rio de Janeiro, estimularam a expansão industrial para o Vale do Paraíba, pelo fato de este se situar entre os dois maiores mercados consumidores do país. Contando ainda com fornecimento de água e energia elétrica, tornou-se uma região privilegiada para a indústria.
A cidade de Belo Horizonte forma o terceiro vértice do triângulo e, conseqüentemente, a terceira maior concentração industrial do país. Foi fundada em 1897, como cidade planejada, para abrigar a sede do governo do estado de Minas Gerais, possuindo, assim, uma grande quantidade de funcionários públicos que formam um mercado consumidor. Era destinada a reverter o processo de decadência que se abateu sobre Minas Gerais após o declínio da atividade mineradora. A elite mineira estava direcionando os seus investimentos para a indústria, contando com a ajuda da concessão de incentivos do governo do estado para atrair investimentos industriais privados, o que resultou na industrialização dos arredores da cidade, com indústrias metalúrgicas e químicas.
A região Sudeste tornou-se, assim, a região produtora e expor-tadora de bens industriais para abastecer as demais regiões do país, as quais transformaram-se nos seus mercados consumidores e, ao mesmo tempo, em fornecedores de matérias-primas necessárias.
São Paulo transformou-se no principal pólo industrial do país em função da economia cafeeira de exportação, que gerou as condições necessárias para tal. São Paulo foi favorecido pelo fato de se situar no nó de ferrovias que ligavam o oeste cafeeiro ao porto de Santos; de ter sido o centro dos negócios de exportação e importação do café; pela chegada dos imigrantes, que gerou mão-de-obra e mercado consumidor; por possuir condições favoráveis de energia elétrica, transportes, mercado consumidor, mão-de-obra qualifi cada. São Paulo e Rio de Janeiro passaram a fazer parte do planejamento governamental, na década de 1950, como áreas ideais para se criar um grande pólo de desenvolvimento. Isso foi terrível para a distribuição espacial das indústrias, pois as demais regiões foram prejudicadas em seu desenvolvimento, já que o modelo que o país escolhera para se desenvolver baseava-se num projeto urbano- industrial, sobretudo, concentrado na região Sudeste.
A DESCONCENTRAÇÃO DA ATIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL
os fatores que proporcionaram essa desconcentração.
Um deles foi a política oficial de distribuição da indústria, adotada a partir da década de 1970, na qual o governo estabeleceu programas de incentivo à industrialização do Nordeste. Para o Centro-Oeste e a Amazônia, foram instalados projetos industriais integrados de mineração e agropecuária, e ainda, a Zona Franca de Manaus. Os governos brasileiros visavam corrigir o problema da acentuada concentração espacial que estava atraindo movimentos migratórios e causando aumento das tensões sociais nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente.
Um outro fator responsável pela desconcentração industrial foi a abertura da economia brasileira à entrada de empresas transnacionais, na década de 1990. Diante desse fato, muitas indústrias instalaram-se no Nordeste, ou para lá se deslocaram em busca de mão-de-obra mais barata, abandonando as áreas onde os salários, por conta da atividade sindical, já estavam mais elevados. Essas indústrias, porém, não estavam preocupadas em racionalizar os custos de produção utilizando-se, para isso, de tecnologias mais avançadas. Estavam trabalhando ainda com o modelo de desenvolvimento arcaico, aquele que predominou nas décadas de 1950 até 1970, o qual, para baratear o custo da produção, utilizava-se da mão-de-obra mais barata.
Uma revolução tecnológica vem ocorrendo no campo da eletrônica, da comunicação e dos transportes, gerando uma nova forma de produção e organização sócio espacial, a qual modifica a localização industrial, permitindo a sua instalação em áreas mais distantes das antigas aglomerações urbanas.
A DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL NO ESPAÇO PAULISTA
Nas últimas décadas, a cidade de São Paulo tem sido palco de um nítido processo de dispersão industrial, ou seja, o interior tem apresentado um crescimento industrial e de outras atividades atraídas pela indústria maior do que a capital.
o Setor Terciário passa a absorver a força de trabalho expelida das indústrias que se deslocam. A metrópole passa a assumir a característica de aglomeração baseada nos serviços e no comércio. A urbanização gerou mercado consumidor, e a implantação de infra-estrutura energética e de modernas vias de transporte criou novas localidades favoráveis à indústria.
A DESCONCENTRAÇÃO DA ATIVIDADE INDUSTRIAL NO BRASIL E A FORMAÇÃO DAS PERIFERIAS INDUSTRIAIS
Há muito as demais regiões do país ressentem-se das desi-gualdades de desenvolvimento econômico em relação ao Sudeste. Diante disso, os governos estaduais reclamam providências junto ao Governo Federal para diminuir o problema.
Existem grandes diferenças estruturais entre os eixos Sul e Nordeste. Ambos contam com um igual número de estabelecimentos industriais, porém o Sul emprega quase o dobro de trabalhadores e realiza uma produção duas vezes maior do que o Nordeste, o que indica uma concentração de capitais muito maior no Sul, que conta com empresas maiores. No Nordeste, predominam milhares de estabelecimentos pequenos e tecnicamente antiquados. No Sul, as empresas mais importantes surgiram de capitais locais, conquistaram o mercado regional e mais tarde o nacional. No Nordeste, as empresas mais importantes são filiais de empresas com matriz no Sudeste ou em outros países.
O eixo Sul A expansão industrial no Sul apoiou-se em dois fatores importantes: o primeiro foi a chegada de imigrantes, que já possuíam uma formação técnica e fundaram empresas que se tornaram nacionalmente famosas, como a Hering, por exemplo; o segundo foi a organização de uma economia regional voltada para si mesma, isto, é, para abastecer o mercado regional.
Em toda a região Sul, predominam as indústrias tradicionais, voltadas para a fabricação de bens de consumo não-duráveis, como vinho, calçados, chocolates entre outros artigos, dependentes de matérias-primas vegetais ou agropecuárias da própria região
O eixo Nordeste Em escala nacional, a implantação de indústrias nas metrópoles nordestinas representou um processo de desconcentração industrial. Porém, na escala regional, o crescimento fabril nessas mesmas cidades teve um efeito contrário: representou uma violenta concentração industrial em relação ao interior.
Os incentivos suplementares eram a mão-de-obra barata e abundante e a energia hidrelétrica disponível, proveniente das usinas hidrelétricas implantadas pelo governo na bacia do rio São Francisco.
A moderna indústria localizada no Nordeste, que necessita, para seu funcionamento, de elevados investimentos de capital, não é uma indústria nordestina. Veio transferida do Centro-Sul ou até do exterior.
O eixo NorteA indústria do eixo Norte localiza-se quase que exclusivamente numa só área, em Manaus. É a chamada Zona Franca que nasceu em 1967, sob a supervisão da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), projeto do governo que visava à criação de um centro industrial no meio da Amazônia.
Os produtos não são fabricados no local, apenas montados com peças importadas, por isso essas indústrias são chamadas "maquiadoras".
Podemos dizer que programas de incentivo à industrialização das demais regiões do Brasil, adotados pelo governo na década de 1970, acabaram influenciando no deslocamento de vários grupos industriais para novas áreas. A abertura da economia brasileira à entrada de empresas transnacionais e o ingresso do país na chamada Terceira Revolução Industrial também favoreceram esse deslocamento.
PRINCIPAIS IMPACTOS TRAZIDOS PELO DESLOCAMENTO DAS INDÚSTRIAS
o que existe até agora é apenas uma relativa desconcentração industrial, o início de um processo de descentralização em nosso território, pois a atividade industrial ainda não atingiu um grau de crescimento que permita uma total dispersão, como é o caso dos países desenvolvidos.
Nas regiões mais afastadas, o predomínio da indústria de bens de consumo não-duráveis (produtos não-duráveis destinados ao consumidor) tem como conseqüência a dependência de tecnologia do Sudeste.
Em geral, podemos dividir em duas partes os impactos socio-espaciais causados pela mudança de localização das indústrias. Os primeiros são os impactos sofridos pelas áreas de onde as indústrias saíram. A maioria delas entra em processo de decadência, repetindo-se o fenômeno que ocorreu nas antigas áreas canavieiras do Nordeste quando o Ciclo da Cana declinou.
O declínio de uma atividade econômica gera desemprego, empobrecimento e fuga de população.
Outros impactos são verificados nas novas áreas ou novas cidades para as quais a indústria se deslocou, levando junto uma caótica implantação de inúmeras atividades que superlotam a área, atraem população, derrubam as antigas atividades locais, principalmente o comércio, atraem os vícios do capitalismo, como o tráfico e a prostituição, além da poluição ambiental. Causam, também, o aumento da desigualdade socioeconômica nas áreas estagnadas. Assim, ao se dispersar a concentração industrial, dispersam-se parte dos problemas dessas áreas; por outro lado, ao se concentrar em outro espaço, com o passar do tempo, concentram-se nele também os problemas.
Agora temos um processo de desconcentração espacial da indústria, associado a uma crescente concentração do capital. Os impactos locais sofridos pelas áreas de onde as indústrias saíram geram um processo de decadência econômica e causam desemprego, empobrecimento e fuga de população. Isso pode ser verificado, em alguns casos, no aspecto urbano, que se deteriora. Nas áreas que recebem as indústrias deslocadas, há uma caótica implantação de atividades que atraem população e dão origem a problemas como o tráfico e a prostituição e geram poluição ambiental, além do aumento da desigualdade socioeconômica.
As conseqüências da dispersão industrial podem variar. No caso do eixo Nordeste, houve baixa absorção de mão-de-obra local, o que pouco contribuiu para elevar os níveis de vida e emprego da população. As limitações de consumo dessa população direcionam a produção das indústrias para atender aos mercados do Centro-Sul. Com relação à Zona Franca de Manaus, a atual política de abertura econô-mica do país coloca em risco o projeto, o que representa o aumento da pobreza em Manaus, que não tem alternativas de substituição dos empregos gerados pela indústria.
AULA 10-
PROCESSO DE TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA OCORRIDO NOS PAÍSES RICOS- Desde o início da humanidade, a escassez de alimentos e as difíceis condições de sobrevivência mantinham elevada a mortalidade, fato que começou a ser modificado com a chegada da modernização agrícola, após a Revolução Industrial. O aumento da produtividade e a utilização de menos mão-de-obra garantiram uma farta distribuição de alimentos e liberaram mão-de-obra do campo para a cidade. O aumento da população nas cidades impôs novos hábitos de higiene individual e coletiva, o que contribuiu para a melhoria das condições médico-sanitárias, diminuindo a proliferação de epidemias e reduzindo drasticamente a mortalidade. Os avanços no campo da medicina (vacinas, antibióticos, pré-natal e outros) também contribuíram para o recuo da mortalidade e para a aceleração do crescimento da população, ou seja, o surto de crescimento faz parte do processo de transição demográfica.
A participação cada vez maior da mulher no mercado de trabalho e sua conseqüente saída de casa representam uma segunda causa importante. As mulheres, agora com acesso aos novos métodos anticoncepcionais, podiam optar por famílias menos numerosas, fato que passou a caracterizar não só os países da Europa como também todo o grupo de países ricos.
PROCESSO DE TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA QUE VEM OCORRENDO NOS PAÍSES POBRE
essa discussão vem ocultando o que realmente está ocorrendo: a finalização do processo de transição demográfica no mundo pobre. A estabilização do crescimento populacional é uma questão de tempo. As principais causas são a modernização da economia e a conseqüente urbanização. Prova-se, estatisticamente, que entre os grupos de maior escolaridade, e portanto de maior renda, a natalidade é mais baixa. Em função disso, a forma mais eficaz de controlar a natalidade consistiria na melhor distribuição de recursos entre a população de um país, diminuindo a desigualdade social dos países subdesenvolvidos. Essa população, então com mais recursos, teria mais condições de investir na educação das futuras gerações, o que resultaria numa redução mais rápida da natalidade, acelerando a tendência já comprovada pelos estudos demográficos.
A modernização agrícola causou um grande deslocamento de mão-de- obra do campo para as cidades, tanto nos países chamados pós-industriais quanto nos outros, que tiveram industrialização tardia e dependente, como foi o caso do Brasil. Existe, porém, uma diferença muito grande na absorção dessa mão-de-obrA. Em ambos os grupos de países, houve modernização agrícola, que gerou deslocamento populacional do campo para as cidades. Nos países pós-industriais, o destino dessa população foi o setor secundário, que se encontrava em expansão e, posteriormente, com a diminuição da absorção da mão-de-obra pelo secundário, ela foi sendo transferida lentamente para o terciário. Nos países de industrialização tardia, o processo não se deu da mesma forma. O setor secundário não tinha a capacidade de absorção de toda a mão-de-obra disponível que veio do campo. Em função disso, uma grande parcela da mesma passou diretamente para o terciário informal, causando um excesso de mão- de-obra, fenômeno conhecido como hipertrofi a do terciário.
APÓS A REVOLUÇÃO TECNOCIENTÍFICA, COMO FICOU O MERCADO DE TRABALHO?
As inovações tecnológicas geram desemprego, pois substituem pessoas por máquinas. O tipo de desemprego que estamos vendo hoje surgiu da combinação de dois fatores: as inovações tecnológicas e as leis trabalhistas conquistadas pela luta sindical, conquistas estas ameaçadas pela economia pós-industrial, pois os elevados custos por trabalhador induzem as empresas a reduzir seus quadros.
Com o desemprego no setor formal, temos observado uma explosão de economia informal. Como economia informal contamos o conjunto de atividades organizadas em bases não-capitalistas, que se mantêm à margem da legislação trabalhista e tributária, nas quais os empregados não estão protegidos por leis trabalhistas (remuneração mínima, limites de jornada, condições sanitárias e outros direitos sociais e previdenciários). Incluem-se nesse setor o pequeno comércio familiar ou ambulante, os serviços eventuais realizados por conta própria, as atividades artesanais, oficinas de reparos e pequenas fábricas domésticas de confecções e calçados. São montados muitas vezes sem capital inicial, com tecnologia rudimentar, mão-de-obra de reduzida qualificação, com produtividade muito baixa, constituindo empregos inseguros e mal-remunerados.
Os ciclos de prosperidade e recessão da economia de um país e as tendências da moda e do marketing é que determinam a vida ou a morte destas milhares de empresas informais, que constituem o elo mais frágil de economia globalizada.
A QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA
Com a globalização e a abertura do nosso mercado à concorrência externa, a indústria foi obrigada a atingir novos patamares de produtividade, necessitando, para isso, de maior qualificação de sua mão-de-obra. Esta é a chamada Revolução Tecnocientífica, e o seu principal efeito é a valorização da mão-de-obra qualificada e a conseqüente desvalorização da força de trabalho com baixo nível de instrução, que ficou submetida ao subemprego informal ou ao desemprego.
A Revolução tecnológica vem exigindo maior qualificação da mão-de-obra, criando cargos mais especializados, enquanto no Brasil, como em outros países pobres, temos uma carência grande no setor educacional. Por este motivo é que os vários textos sobre o assunto apontam como a principal causa do desemprego no Brasil, a falta de qualificação da nossa mão-de-obra para os cargos que vêm sendo criados e, que, diante disso, ela está sendo obrigada a se refugiar nos empregos da economia informal.
A população brasileira, que se formou a partir da composição entre os índios, os brancos e os negros, segue o padrão de transição demográfica mundial.
Nossa transição demográfica começou após a Segunda Guerra, a exemplo do que aconteceu nos países pobres de maneira geral. Iniciou-se, pela queda da mortalidade, causada pela difusão de práticas médicas – já utilizadas no mundo rico – para o mundo pobre, mesmo com a natalidade elevada. A transição demográfica dos países pobres gerou um novo surto de crescimento demográfico mundial.
A estabilização do crescimento populacional é uma questão de tempo. As principais causas são a modernização da economia e a conseqüente urbanização, principalmente o aumento da escolaridade: quanto maior a escolaridade, maior será a renda, e a natalidade, mais baixa.
Em concomitância ao processo de transição demográfica tivemos a modernização agrícola, que gerou deslocamento populacional do campo para as cidades. Esse processo se deu de forma diferenciada nos três grupos de países.
O avanço tecnológico cada vez mais acelerado exige maior qualificação da mão-de-obra e maior especialização dos cargos. Mas, no Brasil, assim como em outros países pobres, há uma carência educacional, que não possibilita preparar adequadamente as pessoas frente às exigências do mercado de trabalho. Por isso, a principal causa do desemprego no Brasil é a falta de qualificação necessária, o que obriga a população a se refugiar nos empregos da economia informal.
Aula 11- Deslocamentos populacionais no Brasil de ontem e de hoje
Populações geralmente se deslocaram de áreas estagnadas economicamente, que se tornaram repulsoras, para áreas nas quais se
implantou um novo atrativo econômico que passou a gerar emprego e renda. O Brasil, pela extensão do seu território e pelos recursos disponíveis, sempre foi um grande atrator de fl uxos populacionais.
A partir da década de 1980, verifi cou-se uma inversão do fl uxo migratório no Brasil, que antes era de mais entradas e depois passou a ser de mais saídas, instituindo-se numa nova etapa na história das migrações brasileiras, ocasionada pelos seguintes fatores: a crise econômica interna, que não permitia a oferta de empregos, além de representar perda do valor real dos salários; a infl ação; a recessão econômica Iniciou-se também, nesse período, um fato grave chamado “fuga de cérebros”, que é a saída de mão-de-obra superqualifi cada em busca de melhores empregos. Dentre eles, cientistas, pesquisadores e professores emigram em vista das precárias condições da pesquisa científi ca no Brasil
A composição da população brasileira refl ete a transferência de migrantes de várias nações do mundo. Dentre as principais causas, estavam a busca de melhores condições econômicas e de estabilidade social e política. Esses imigrantes se espalharam por
todo o Brasil e foram responsáveis pela construção de uma parte importante de nossa história.
OS PRINCIPAIS MOVIMENTOS POPULACIONAIS INTERNOS
os principais tipos de migrações internas que ocorrem em nosso território. São elas a migração sazonal, também conhecida como transumância ou migração pendular, e o êxodo rural. A transumância é um deslocamento temporário (ida e volta contínua, por isso conhecida como pendular) e está relacionada a uma fase do ano (sazonal) sempre ligada a uma atividade econômica que necessita de
mão-de-obra. Como movimentos pendulares incluem-se também aqueles realizados diariamente por milhares de trabalhadores urbanos que vivem nas periferias e trabalham nos grandes centros urbanos.
o êxodo rural, que é o deslocamento de populações que abandonam o campo para procurar emprego na cidade. Ele pode ser temporário, quando o migrante, depois de algum tempo trabalhando fora, retorna à sua área de origem; ou pode ser defi nitivo.
A estagnação econômica que ocorreu depois do período da canade açúcar e a extrema concentração das terras nas mãos dos latifundiários
transformaram o Nordeste num depósito de mão-de-obra barata para os centros industriais do Sudeste, o maior atrativo populacional do século XX. A imensa maioria dos migrantes nordestinos é de mão-de-obra desqualifi cada e recebe os piores salários. Dos trabalhadores que formam a economia informal, 35% são migrantes (não só nordestinos) e seu salário médio é 30% menor do que o dos residentes antigos.
A maior conseqüência espacial do grande fl uxo migratório que ocorreu em direção às cidades industriais do Sudeste foi a formação de aglomerações urbanas situadas na periferia dessas cidades. Essas aglomerações também se espalharam pelos municípios vizinhos, e eles cresceram tanto que se encostaram no município principal, dando origem a um fenômeno urbano chamado “região metropolitana”.
A FAMOSA MARCHA PARA O OESTE
A partir da década de 1940, iniciou-se a chamada marcha para o interior do país, isto é, uma expansão da fronteira agrícola, pois, estando
as terras litorâneas já muito ocupadas, a população passou a buscar novas terras, com custos menores para plantar ou para criar animais.
O Governo Federal, então, tentando estimular um movimento populacional para o interior, começou a formar colônias agrícolas,
Esse é um fenômeno que, apesar de ter sido mais intenso numa determinada época da história brasileira, ainda ocorre. A principal causa da interiorização da população brasileira foi o encarecimento das terras no litoral, já bastante ocupado, o aumento das exportações brasileiras e a demanda por novas áreas agrícolas. Dentre as conseqüências, temos a grande degradação ambiental que a agricultura de exportação vem causando, principalmente a derrubada das fl orestas e a contaminação dos rios, a destruição das tribos indígenas e o empobrecimento cada vez maior dos produtores rurais que não contam com a assistência plena do Estado para a sua manutenção nessas áreas.
AS FRONTEIRAS AGRÍCOLAS ULTRAPASSAM OS LIMITES DO TERRITÓRIO BRASILEIRO
O governo paraguaio loteou terras com preço inferior às brasileiras e deu facilidades de crédito para o plantio e para a comercialização da
produção. Até hoje, porém, existem graves confl itos nessa região, em função da venda das mesmas terras a mais de um proprietário, um caso claro de corrupção administrativa por parte do governo paraguaio e dos latifundiários e empresas madeireiras brasileiras. Nesses confrontos, muitos pequenos proprietários perderam as suas terras para os grandes empresários e tiveram de retornar ao Brasil.
SITUAÇÃO ATUAL DAS MIGRAÇÕES INTERNAS NO BRASIL
o nosso país foi redefi nindo a sua história de movimentação populacional, pois novas tendências se confi guraram. Se no princípio,
no século XIX, tivemos o fl uxo imigratório superando o emigratório, no século XX tivemos a inversão dessa situação. A região que outrora fora a maior recebedora dos fl uxos migratórios (Sudeste) perde essa categoria. No momento atual, a população brasileira
tem buscado mais o interior do país, assim como outros países do continente, confi gurando-se, assim, maior diversidade migratória no Brasil
A grande atração populacional exercida pelo Sudeste em meados do século XX se deu por conta da implantação da indústria, que necessitava, no início, de muita mão-de-obra para o seu funcionamento. Depois, em meados da década de 1960, foi o resultado da política desenvolvimentista voltada para o mercado de exportação, implantada pelos governos militares, que esvaziou o campo e inchou a cidade, fazendo emergir uma questão urbana de difícil solução. O crescimento urbano acelerado e desordenado, e o empobrecimento da população provocaram a deterioração progressiva das condições de vida nas cidades.
Aula 12-A urbanização Brasileira
Esta é, de fato, uma importante característica do espaço brasileiro atual, a sua imensa URBANIZAÇÃO. Essa urbanização se caracteriza pela ampliação do número de cidades, pela concentração da população nos grandes centros, pela grande importância política e econômica das cidades e, particularmente, das metrópoles, e pela enorme SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL. A urbanização só ocorre, de fato, quando a população urbana cresce mais que a rural, como resultado da migração campo-cidade. Isso dá idéia de quão rápidas foram as transformações do espaço brasileiro nesse período, com o incremento da industrialização e as mudanças na agricultura.
A industrialização brasileira se caracteriza por seu caráter poupador de mão-de-obra, pois se realizou “pulando etapas”, não passando por todas as fases de desenvolvimento por que passaram os países que primeiro fi zeram a Revolução Industrial.
Isso fez com que boa parte dos trabalhadores não fosse absorvida, dando origem a um setor terciário vasto e caracterizado pelo SUBEMPREGO. o nível de desemprego tende a se manter sempre elevado, o que se agravou com o aprofundamento dos processos de automação industrial e fl exibilização das relações de trabalho, em curso atualmente. Esse fato gerou uma organização do espaço urbano no qual se nota uma nítida segregação socioespacial, com a discrepância entre luxuosos edifícios e favelas extremamente carentes de serviços e com habitações precaríssimas. Tais questões são agravadas pelo fato de o padrão de urbanização brasileira ser marcado pelo predomínio de grandes cidades e por uma reduzida importância das cidades de pequeno e médio porte, o que se deve, sem dúvida, à concentração espacial da indústria.
Dentro da organização espacial brasileira, as grandes metrópoles nacionais têm um papel de destaque, enquanto as cidades de pequeno
porte geralmente carecem de serviços e estão subordinadas a uma grande metrópole, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo; esta última é a principal cidade do país e uma das maiores do mundo.
AS TRANSFORMAÇÕES URBANAS A PARTIR DO SÉCULO XIX
A economia e a política foram os principais vetores de estímulo para a fundação de muitas cidades localizadas nas principais regiões
econômicas do Brasil, como o Sudeste e o Nordeste. Quanto ao espaço físico, as condições favoráveis de relevo, as boas terras e o clima defi niram as características dos lugares. Mais uma vez a cafeicultura e as ferrovias tiveram papel importante na dinamização do país. Ambas foram fatores muito importantes na criação de cidades do Sudeste, que giravam em torno da economia do café e também da cana-de-açúcar. Mesmo com toda a expansão da sua rede urbana, o Brasil chegou às primeiras décadas do século XX tendo uma população
predominantemente rural. As mudanças ocorridas na política e no sistema socioeconômico, com a introdução do trabalho livre e assalariado, permitiram ao país adotar uma nova forma de ocupação de seu território. A economia de caráter agroexportador reproduzia relações sociais de trabalho que fi xavam o homem ao campo.
Foi a economia do café que permitiu a conquista de muitas áreas do interior do país, que fortaleceu as relações sociais do trabalho livre
e alargou os mercados internacionais. Foi, portanto, um dos grandes responsáveis pelo crescimento das cidades e pela transformação
socioespacial do país. São Paulo e Rio de Janeiro assumiram a partir daí a posição de liderança no crescimento.
A população assalariada favoreceu a organização dos mercados urbanos. Nos novos e antigos centros urbanos acumulavam-se trabalhadores livres, empregados nas atividades industriais e no setor terciário.
A industrialização e a modernização da agricultura que acabaram incentivando a migração campo-cidade geraram empregos especializados, expandiram a classe média e aqueceram o consumo urbano, estimulando o comércio e a expansão da prestação dos serviços urbanos. Viver na cidade tornou-se moderno, ao mesmo tempo que permanecer no campo tornou-se sinônimo de atrasado. Os maiores responsáveis por criar esse padrão de modernidade foram os meios de comunicação, que levaram para a população de todo o mundo a idéia de que o modelo urbano oferecia um padrão de vida mais elevado, mais moderno. Esse padrão de vida está baseado nas possibilidades do consumo. A modernidade produziu o outro lado da urbanização. O Brasil se modernizou (e se urbanizou) apoiado na entrada de capitais estrangeiros. Mas as tecnologias importadas para produzir essa modernização não eram adaptadas às nossas condições,
e sim à realidade dos países mais desenvolvidos, onde a urbanização já estava estabilizada e o crescimento da oferta de mão-de-obra urbana era lento e gradual.
Os trabalhadores menos qualifi cados para o trabalho urbano acabaram sendo absorvidos pelo setor terciário informal. É o caso dos
camelôs e dos prestadores de serviços, como os que fazem consertos de eletrodomésticos, veículos, roupas, calçados etc.
A Exclusão Social
O Brasil é um país moderno! É verdade. Por suas características econômicas, ele é classifi cado dessa maneira. Mas fi ca muito fácil questionar esse conceito quando levamos em conta os indicadores sociais: grande número de desempregados, alto índice de analfabetismo, défi cit de moradias, sucateamento da saúde e da educação. Signifi cativa parcela da população vive excluída do acesso às riquezas produzidas no país.
O crescimento das regiões metropolitanas é um fato marcante da urbanização brasileira nas últimas décadas. É nas regiões metropolitanas
que se diversifi ca e avoluma a divisão do trabalho, originando uma série de relações econômicas e sociais. Quanto maiores as aglomerações urbanas, maior a sua capacidade de abrigar atividades diferenciadas. Por isso, as metrópoles acabaram se caracterizando como a forma mais aguda do processo de concentração espacial que o capitalismo foi capaz de produzir no século XX.
Quanto mais cresce a população e, conseqüentemente, a demanda por habitação, mais escasso e valorizado se torna esse solo.
A alta valorização do solo urbano leva ao fenômeno da verticalização das áreas centrais das grandes cidades, enquanto nas áreas periféricas o que se encontra é um processo de expansão horizontal, geralmente acompanhada de precárias condições de infra-estrutura.
Enquanto o centro urbano abriga a parcela da população que não encontrou outra opção que não a de permanecer próximo ao trabalho,
mesmo que em condições precárias de habitação, a conurbação criada na região metropolitana vai abrigar outros tipos de problemas para os trabalhadores: o do transporte de massa. O trabalhador que se abrigou na periferia passa a enfrentar problemas como o de ônibus insufi cientes, as longas distâncias, os grandes congestionamentos, as horas passadas no trânsito, enfi m, problemas modernos, que trazem ao trabalhador um enorme desgaste na sua condição física e perda de qualidade de vida.
As grandes cidades brasileiras têm refl etido no espaço os problemas derivados da aglomeração populacional e da falta de projetos
governamentais que ofereçam opções defi nitivas para esses problemas. A história de Juca e André só exemplifi ca uma realidade que é muito comum nas regiões metropolitanas e também nas cidades de menor tamanho. Problemas de habitação, transporte, saneamento básico, educação de qualidade, acesso ao emprego, exacerbam as condições de subvida de milhares de pessoas nas grandes cidades e levam ao aumento da violência urbana. A violência é um sintoma social do espaço urbano e refl ete a falta de oportunidades.
PROBLEMAS SOCIAIS X PROBLEMAS AMBIENTAIS: A CIDADE DE HOJE
O fenômeno da globalização produziu, ao longo das últimas décadas, novas fontes de riqueza, mas também de pobreza, nas grandes cidades. Ao mesmo tempo que os salários dos trabalhadores industriais tendem a baixar, verifi ca-se, com menor intensidade, uma imigração de gente de baixa renda proveniente de áreas rurais modernas, de áreas rurais tradicionais e de outras áreas urbanas. As grandes cidades se desenvolveram como pólo atrativo a acolher gente pobre e lhes oferecer alguma espécie de ocupação.
Os gastos públicos privilegiaram a criação de uma infra-estrutura para atender às necessidades das atividades produtivas, em detrimento
da satisfação das necessidades sociais. As grandes obras, como usinas hidrelétricas, rodovias, sistemas ferroviários urbanos, sistemas de
telecomunicações, benefi ciaram indiretamente os mais pobres. No subemprego, falta de transportes coletivos de qualidade, falta de infraestrutura básica, como pavimentação, coleta de esgotos, água, luz elétrica, a decadência do ensino público e a deterioração da assistência médicohospitalar. Estes são só alguns dos problemas urbanos sem solução.
A submoradia tem-se caracterizado como um dos problemas urbanos mais graves. Dos anos 1980 para cá, ela se multiplicou nas grandes cidades. Na maioria das vezes, situa-se nas áreas centrais, formando os cortiços, em que famílias inteiras vivem instaladas num único cômodo. Muitas pessoas preferem viver assim a tentar a instalação nas periferias porque os problemas com deslocamento, principalmente, são grandes. Por outro lado, a presença da mão-de-obra nas áreas centrais signifi ca economia para os empregadores, já que os custos com o transporte costumam ser altos. A presença de favelas em áreas centrais também segue as mesmas características. A maioria dos terrenos ocupados por favelas pertence ao Estado, que nos últimos anos tem procurado estabelecer programas de reurbanização das favelas, com o objetivo de fornecer infra-estrutura básica, apesar de a maior parte das favelas existentes no país continuar em situação precária.
O Estado brasileiro pouco fez até hoje para resolver os problemas inerentes à urbanização acelerada ocorrida no país. Sua ação se deu
apenas no sentido de sacramentar a desordem urbana; ou seja, o Estado, em vez de buscar a solução definitiva para os problemas
urbanos, muito mais acentuados nas regiões metropolitanas, aplica seus recursos de forma paliativa, como, por exemplo, urbanizando parte das favelas, titulando terrenos irregulares, ou levando infra-estrutura para loteamentos ilegais.
As metrópoles brasileiras expandiram-se de forma acelerada, produzindo e reproduzindo várias formas de segregação espacial. E o Estado? Suas ações foram marcadas por profundas contradições, omissões e desacertos. O Estado tem-se mostrado incapaz de corrigir
as distorções da urbanização brasileira. Enquanto isso, os problemas sociais se reproduzem espantosamente nas grandes e também nas médias e pequenas cidades deste país.
Aula 13 - O Brasil regional-
As tentativas de transformar o Brasil numa economia integrada criaram a necessidade de conhecimento do território, no que diz respeito a estatísticas e recursos naturais.
A Natureza, analisada segundo a visão do conceito de Região Natural, era vista como uma espécie de palco perfeito sobre o qual havia a possibilidade de se desenrolarem as atividades humanas. Regionalizar considerando apenas o aspecto natural permitia aos planejadores determinar como e com quais atividades o homem ocuparia e transformaria aquele espaço. O palco natural era uma variável estável e permanente, enquanto regionalizar, levando em conta a história dos homens, era algo instável e recente. Esse era o pensamento da época, infl uenciado pela escola francesa de Geografi a, que acabou defi nindo a escolha desse conceito para a primeira regionalização brasileira.
Por isso, o interesse do governo em estabelecer uma divisão regional no território, que serviria de base de pesquisa.
Houve três divisões:
• a primeira dividiu o Brasil em cinco grandes regiões: Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro-Oeste, e utilizou-se o conceito de Região Natural;
• a segunda foi baseada em novos conhecimentos sobre o território brasileiro, e utilizou-se um novo conceito de regionalização, o conceito de Regiões Homogêneas;
• a terceira dividiu o território brasileiro em Regiões Geoeconômicas: Amazônia, Nordeste e Centro-Sul, e se trata de uma divisão não-ofi cial, ou seja, não foi elaborada pelo IBGE. As regiões seguem critérios geográfi cos e econômicos, baseados ainda no conceito de Regiões Homogêneas.
O método geográfi co de regionalização serve, antes de tudo, para orientar as políticas territoriais do Estado, ou seja, políticas de planejamento. Governos municipais, estaduais e federal delimitam unidades regionais dentro do seu território como forma de racionalizar os investimentos, servindo como instrumento de políticas de planejamento.
As Regiões Homogêneas são defi nidas segundo uma combinação de características físicas (ou naturais), demográfi cas (populacionais) e
econômicas. Foram levados em consideração os domínios ecológicos, estudados na Aula 5; o comportamento da população, estudado na
Aula 9; a estrutura agroindustrial e a rede de transportes, entre outros aspectos. Esse critério de regionalização, baseado no conceito de regiões homogêneas, considerava as atividades econômicas como fundamentais para a diferenciação das áreas, pois era o funcionamento da economia que iria determinar as políticas de investimentos que o governo adotaria. A identificação de áreas consideradas “deprimidas” auxiliava no direcionamento dos investimentos.
As regiões de planejamento, naturais ou geoeconômicas, são sempre unidades territoriais sujeitas a programas específicos de intervenção por parte do Estado. São criadas para corrigir desequilíbrios regionais, originados no processo de crescimento econômico de um país.
A regionalização com o conceito de Região Natural que, a princípio, exclui o homem como produtor de transformação do ambiente
acabou por provocar profundos equívocos em regiões como a da Amazônia brasileira. Por causa desse planejamento equivocado, que
priorizou a exploração dos recursos naturais, com a instalação dos megraprojetos liderados pelo grande capital, sem levar em conta as
peculiaridades ambientais e, principalmente, sociais, a Região Norte do país transformou-se num palco de muitos problemas. Sobrevêm,
então, a dizimação de grande parte da população indígena, a morte de posseiros e pequenos proprietários de terras em função
da expansão da grilagem, a intensifi cação das queimadas para aumento das pastagens etc.
SITUAÇÃO ATUAL DO BRASIL REGIONAL
Apesar desse processo todo, a economia brasileira continua concentrada na Região Sudeste. O Nordeste e a Amazônia continuam
sofrendo das mesmas questões sociais, tais como pobreza, desigualdades na distribuição de renda e de terras, confl itos fundiários, baixos salários, desemprego, fome, mortalidade infantil e analfabetismo. As indústrias e os grandes projetos minerais e agropecuários pertencem a empresários do Centro-Sul ou do exterior, que se benefi ciam dos recursos, em detrimento da população local. Os produtos fabricados nessas regiões, em geral, são consumidos no Sudeste, porque as populações do Nordeste e da Amazônia não dispõem de sufi ciente poder aquisitivo. A falta de mercado consumidor é o principal obstáculo ao desenvolvimento dessas regiões.
Aula 14 - O Brasil regional e o complexo do Centro-Sul
A divisão do território brasileiro em regiões geoeconômicas é uma proposta de estudo com base em três grandes unidades territoriais,
chamadas complexos regionais: o Centro-Sul, a Amazônia e o Nordeste.
Essas três grandes regiões são individualizadas segundo critérios geográfi cos, baseados também no conceito de Regiões Homogêneas, que
consideram os aspectos econômicos, sociais e naturais. O Centro-Sul, que é o complexo a ser estudado nesta aula, é composto pela Região Sudeste, pela Região Sul e por parte das Regiões Centro-Oeste e Norte Em nenhuma das três partes resultantes dessa regionalização, as áreas defi nidas têm seus limites coincidindo com as fronteiras político-administrativas dos estados brasileiros. O que não ocorre com a divisão ofi cial, que, por algumas conveniências, faz com que os limites das regiões coincidam com os limites dos estados, O Centro-Sul destaca-se como o centro econômico do Brasil pela maior população nacional e pela maior parte da produção industrial e agropecuária do país. É a região de economia mais dinâmica, produzindo a maior parte do PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, das riquezas nos setores agrário, industrial e de serviços. Mas, apesar da maior dinamicidade, o Centro-Sul possui também as contradições típicas do desigual desenvolvimento socioeconômico brasileiro São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília constituem os três mais importantes centros, onde se concentram as sedes sociais das grandes corporações privadas vinculadas à produção,
circulação e distribuição de mercadorias e capitais. O Centro-Sul abriga dois terços dos habitantes do país e concentra a maior parte dos recursos econômicos, da indústria, da agropecuária moderna, dos bancos, do mercado de capitais, do comércio etc. Além disso, também é o centro de pesquisas, tecnologia e de ensino superior, pois nessa região concentra-se a maior parte das universidades do Brasil. É, ainda,
onde se localizam os principais portos, rodovias e aeroportos. Tudo isso faz do Centro-Sul uma região concentradora dos recursos econômicos e sociais.
O Centro-Sul precisou contar com a ampliação das regiões produtivas e com o aumento do nível tecnológico das mesmas. Foi o que aconteceu com a incorporação de parte do Centro-Oeste na dinâmica econômica do Sudeste. O desenvolvimento da agricultura comercial auxiliou no fortalecimento dos complexos agroindustriais e complementou a economia do Centro-Sul. Os custos dessa expansão é que foram grandes. A cultura da soja e a expansão da pecuária nas áreas de cerrado provocaram perdas ambientais, e a concentração da propriedade da terra provocou confl itos e mortes no campo. Essa atividade visa a atender ao primeiro objetivo desta aula, que é de mostrar como as áreas que compõem o Centro-Sul contribuíram no seu fortalecimento.
A Região Sudeste (composta pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais) é, de todas as partes
que compõem o complexo do Centro-Sul, a mais importante do ponto de vista econômico. Por isso, a expressão de que o “Sudeste
é o coração econômico do Brasil” é uma das defi nições mais recorrentes quando se trata de defi nir a região. De fato, o Sudeste é a região mais desenvolvida, não só do complexo Centro-Sul, mas de todo o Brasil. Os primórdios da regionalização no Centro-Sul, como você já viu em aulas anteriores, estão relacionados às políticas de investimento voltadas para a consolidação de alguns setores econômicos, como o agropecuário e o industrial, que foram por um longo período concentrados, principalmente nos estados do Sudeste, o que defi niu sua superioridade em relação às demais regiões. A importância histórica dessa região data do desenvolvimento da atividade mineradora, quando o eixo econômico e político do país foi transferido para o Centro-Sul. Após a mineração, o café, no século XIX,
valorizou também a área, tanto no vale do Paraíba fl uminense como no paulista. No século XX, este produto impulsionou a economia do oeste de São Paulo.
Na Era Vargas, essa região encontrou sua vocação industrial. O capital do café e os esforços estatais vão transformá-la em um grande
centro industrial, sobretudo nas metrópoles nacionais de São Paulo e Rio de Janeiro, e na regional de Belo Horizonte. a região reunia todas as precondições vitais para permitirem o surgimento de indústrias. Além disso, a região destacava-se como uma área densamente povoada, bem servida de potenciais energéticos e de facilidade de transporte, na qual se concentrava a parcela fundamental da atividade econômica do país: a região paulista-fl uminense, que abrangia o centro administrativo nacional e a zona de atividade econômica mais dinâmica da época. São Paulo destacou-se no contexto nacional como o estado de maior concentração industrial, especialmente no tocante à indústria pesada. Atualmente, o interior do estado já desponta como o segundo mercado interno do país.
A riqueza de recursos minerais esteve na base do grande desenvolvimento das indústrias siderúrgica e metalúrgica da região, principalmente no estado de Minas Gerais. o Rio de Janeiro, apesar de estagnado na metade dos anos 1990, vem crescendo através de um processo de “renúncia fiscal” e dos novos ramos privatizados, os da telecomunicação e da siderurgia.
A economia do Rio de Janeiro, porém, tem sua maior perspectiva no crescimento da indústria do petróleo (extração, construção naval,
plataformas, oleodutos e gasodutos, pólo gás-químico e novas empresas que ganharam concessão de exploração). O problema do Rio de Janeiro é que sua produção agropecuária é basicamente para o consumo interno e, necessariamente, o estado exige importação de alimentos e insumos agrícolas.
Contudo, mesmo com todo esse potencial econômico e produtivo, a Região Centro-Sul convive com profundas contradições e crises.
Primeiro, há uma crise social. Nas metrópoles do Sudeste, destaca-se o grave problema da segregação espacial,
Mesmo com a redução da migração, a favelização ampliou-se paralelamente à formação de uma enorme periferia urbana, sem infraestrutura básica.
Há também uma crise ambiental. Os desmatamentos, a retirada dos mangues, a poluição de importantes fontes de vida, como a Baía de
Guanabara, no Rio de Janeiro, os deslizamentos de encostas, os problemas com o lixo, entre outros, são tônicas na vida da região. A industrialização e a exploração econômica acelerada, sem respeito ao meio ambiente, são fatores geradores dessas crises vivenciadas pela mais dinâmica região do país. As diferenças regionais denotam, principalmente, um processo de ocupação desigual, desequilibrado. Essa ocupação, que privilegiou as grandes cidades dos estados com as maiores economias, acabou provocando a criação desse Brasil tão dividido e tão desigual. Mesmo dentro das regiões mais ricas do país, podemos constatar as grandes diferenças socioespaciais, o que demonstra que as políticas de investimentos direcionadas, em sua maioria, para essas regiões, também não conseguiram resolver os seus problemas. Ao contrário, em muitos casos, eles se acentuaram.
As grandes cidades brasileiras acabaram recebendo grandes contingentes populacionais de outras regiões do país, pois seus estados de origem não lhes ofereciam melhores oportunidades de vida. Nos maiores centros urbanos, essas pessoas acabaram se instalando em áreas defi citárias de infra-estrutura e suas vidas pouco ou quase nada melhoraram. O poder público não tem sido capaz de equilibrar
o desenvolvimento regional, já que as opções de investimentos sempre foram concentradas nas regiões mais dinâmicas do país.
AULA 15 - O Brasil regional e o complexo da Amazônia
Para discutir o espaço do complexo amazônico, é preciso entender um pouco sobre as distorções criadas a respeito da verdadeira realidade
da região. Seus próprios moradores se espantam ao ver que, para melhor explorá-la, os grandes interessados ainda passam a imagem de uma região habitada essencialmente por índios, enquanto há muito tempo existem cidades e uma vida urbana considerável. A Amazônia se tornou fronteira a ser explorada pelo capital após 1970, sob um discurso de que era preciso integrá-la às regiões mais dinâmicas do país e evitar o aprofundamento do desequilíbrio regional existente, conforme você estudou na Aula 14. O projeto de integração acabou implicando uma crescente apropriação dos recursos naturais, que foram transformados em reserva de valor; a busca constante por novas riquezas minerais; os investimentos pontuais de capitais privado e estatal que, para incentivar as correntes migratórias e a ocupação da
região, construíram aeroportos, hidrovias, rodovias etc.; a dizimação física e cultural da região, pelo acirramento dos confl itos sociais.
Existem várias concepções sobre a Amazônia que iremos desvendar agora:
a) a Amazônia como vazio demográfi co: A imagem da Amazônia como vazio demográfi co foi construída pela difi culdade de garantir a efetiva exploração da região. No entanto, os confl itos que se multiplicaram nos anos 1960 e 1970, devido à expansão da fronteira agrícola entre as populações tradicionais remanescentes – índios, seringueiros e ribeirinhos –, e os “novos colonizadores”, comprovam a ilusão da imagem da Amazônia como vazio demográfi co e cultural.
b) a Amazônia como reserva de recursos: Essa visão acabou causando muitos danos ambientais à região. A prática cultural de tradição européia, que vê a fl oresta como natureza que deve ser derrubada para dar lugar à agricultura, levou à perda de milhões de toneladas anuais dos solos amazônicos e de um patrimônio de biodiversidade inestimável.
A visão geopolítica tradicional da Amazônia como um vasto espaço vazio e uma reserva de recursos naturais, refl etida no planejamento
regional das décadas passadas, foi um erro fundamental, pois desrespeitou a exploração tradicional dos recursos naturais como modelo de
desenvolvimento regional na Amazônia.
c) A Amazônia como reserva ecológica do planeta: A importância da dinâmica hidrológica da Floresta Amazônica para o planeta e a devastação operada na região pelo modelo de desenvolvimento implementado nos anos 1970, baseado nos grandes projetos, colocou a Amazônia no centro do debate ambiental.
d) A Amazônia como região atrasada:
Outra visão corrente no imaginário sobre a Amazônia é a de região atrasada. Só que os problemas da Amazônia não são resultado do atraso, e sim do modelo de desenvolvimento calcado na modernização, que em vez de desenvolvê-la econômica e socialmente, apenas possibilitou que “os de fora” pudessem explorar suas riquezas. Os bons resultados dessa exploração pouco ou quase nunca retornaram à Amazônia.
A Amazônia, nos últimos trinta anos, tem experimentado uma nova fase do processo atraso-modernização. Das experiências anteriores,
permanecem a exclusão social e a dilapidação do patrimônio natural e cultural. O que temos de novo, pós-anos 1960, é a captura, que parece defi nitiva, do espaço regional amazônico pelo Centro-Sul, de suas riquezas que servem ao centro dinâmico do país, já que este responde e se insere mais intensamente no processo de mundialização da economia.
Em outras palavras, a Amazônia existe para abastecer, com suas riquezas, o Centro-Sul.
POR QUE A AMAZÔNIA SEMPRE FOI VISTA COMO UMA
“QUESTÃO NACIONAL”?
Na formação histórica do território brasileiro, a Amazônia é uma região periférica, marginal. No contexto nacional, essa visão é decorrente
da colonização, quando a Amazônia foi destinada a ser uma reserva futura de recursos naturais e colocada como uma fronteira indomável
frente à incapacidade efetiva de exploração. É uma região subordinada aos interesses nacionais, e estes são defi nidos nos centros hegemônicos do poder nacional, que estão localizados fora da região Norte.
Quando a integração da Amazônia ao território brasileiro aconteceu, a região permaneceu nas mãos dos antigos colonizadores, cujo poder se tornara ainda maior, haja vista serem, na época, extremamente débeis as inculações da Amazônia com o Rio de Janeiro, então capital do Brasil.
O complexo amazônico é composto pela Região Norte e pela grande fl oresta amazônica, que é a maior fl oresta equatorial do mundo, com seus 6,5 milhões de quilômetros quadrados, boa parte localizada em território brasileiro. Para conhecera fundo as particularidades desse espaço, é necessário quebrar os estereótipos que foram construídos, para justifi car a necessidade de ocupá-lo e explorá-lo. O complexo amazônico sempre foi visto como uma “questão nacional”, destinado a ser uma reserva futura de recursos naturais e colocado como uma fronteira indomável. Foi sempre subordinado aos interesses nacionais e internacionais, já que os países ricos querem se tornar responsáveis pelo destino a ser dado à Amazônia.
Os povos da floresta (povos ribeirinhos, seringueiros, quilombolas, índios, castanheiros, quebradeiras de coco e os atingidos por barragens) têm lutado pelo direito de permanecerem na terra que conquistaram e usufruírem dos recursos naturais para continuarem sobrevivendo. Outro grande desafi o é proteger os recursos naturais da Amazônia, já que a degradação avança fortemente, como é o caso do desmatamento que atingiu 14,2% em 2000, contra 0,6% em 1975.

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