sábado, 18 de setembro de 2010

RESUMO LINGUA PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO II - APs - AULAS 1 a 30

RESUMO ELABORADO A PARTIR DOS TEXTOS DE CLAUDIA CAPELLO E MARISTELA BOTELHO FRANÇA.

Resumo de Língua Portuguesa 2 – Aulas 1,2,3,4,5 e 6/7


Aula 1 - Retomando a formação do aluno leitor

Nas salas de aula do Brasil, prossegue o autor, as atividades de leitura, geralmente, são fragmentadas da seguinte forma:

1) o texto é distribuído; os alunos esperam o próximo passo(alguns já o lêem, mas também esperam);

2) o professor pede que leiam; os alunos lêem e esperam (alguns não lêem, apenas esperam o próximo movimento);

3) o professor pede que alguns digam sobre o que foi lido; alguns o atendem e todos esperam o próximo passo;

4) o professor pede que produzam um texto; os alunos passam a escrever um genérico texto e esperam o próximo passo (alguns se recusam a escrever; preferem apenas esperar) (PIVOVAR, 2002, p. 100).



LEITURA DIALÓGICA: ALUNO LEITOR = ALUNO AUTOR

Todo aluno-leitor é, ao mesmo tempo, autor. Ao interpenetrar um texto, ele o faz articulando o dito com ditos anteriores armazenados em seu conhecimento de mundo, lingüístico, e de gêneros do discurso, atribuindo-lhe novo significado na instância da leitura.

O ato de compreender é um ato de inserção, isto é, de inclusão de um sujeito em uma cadeia dialógica mais ampla. Analisando esse ponto de vista, verificamos, novamente, que a palavra é a ponte entre o aluno e a cidadania.

Como você estabelece a relação entre a idéia de compreensão responsiva e a construção de cidadania?

Em debate alguns autores:

O primeiro, é MIKHAIL BAKHTIN, nos mostra que compreender textos é um processo em que estão presentes, tanto as palavras desse texto, quanto o nível de entendimento sobre elas, articuladas naquele contexto (significando ali, naquela produção textual) e levando em consideração, ainda, a visão social de mundo (valores, representações, costumes) e a visão que o outro (o autor do texto ou o seu enunciador) constrói sobre o modo de compreender e ver as coisas.

O leitor toma atitudes diante do que lê, no sentido de explorar a complexidade de seu conteúdo (no plano do dito e do não-dito) e de responder às questões que daí surgem.



UMA VISÃO AMPLIADA DE TEXTO

As práticas de leitura que se baseiam na diversidade de linguagens, de autores e de suportes são aquelas que mais contribuem para a autonomia do leitor, na medida em que essas práticas o ajudam, diante da pluralidade de suportes, construções de enunciados e de sentidos possíveis, a fazer escolhas e a tomar posição a partir de critérios que se sustentam não apenas no plano lingüístico, mas também no plano das correlações não-verbais, imagéticas e sensoriais.



Aula 2 - Linguagem e língua: cada coisa no seu lugar



A LINGUAGEM COMO FACULDADE MENTAL

Linguagem é uma faculdade mental, ou seja, é uma habilidade que se desenvolve no ser humano. Antes de aprendermos a usar as palavras, nos expressamos a partir de outros códigos, que nos permitem estabelecer uma comunicação com o mundo. Mais tarde, aprendemos a utilizar a linguagem verbal. Essa linguagem permite ao homem estabelecer uma forma refinada de comunicação, que só é possível graças à sua capacidade de desenvolver e dominar sistemas de signos.

O domínio de um código verbal – que é o nosso sistema de signos lingüísticos – é fruto de um funcionamento intelectual que nos leva a uma importante conclusão: o desenvolvimento da linguagem está estreitamente ligado ao desenvolvimento intelectual e à estruturação do próprio pensamento.

Vigotsky nos mostra que o ser humano, nos primeiros anos de vida, utiliza a fala para se relacionar com o mundo que o cerca. Com o passar do tempo, vai ampliando as estruturas lingüísticas, tanto na fala quanto no pensamento, mas a função social da fala já existe naquele primeiro momento, que podemos considerar como sendo a base pré-intelectual do seu desenvolvimento.



LINGUAGEM E LÍNGUA

Nos processos de comunicação, utiliza-se um veículo comum para estabelecer, de fato, a comunicação. Esse veículo comum é o que estamos chamando de código.

Os códigos podem ser verbais e não verbais.

O código verbal são normas que permitem a comunicação entre os usuários dessa língua. Os códigos não verbais, por sua vez, são aqueles que não estão associados a signos lingüísticos. Eles podem ser imagens, desenhos, fotos, símbolos, gestos, enfim, tudo quanto possibilite uma leitura de mundo. Assim, podemos dizer que linguagem é uma manifestação que se desenvolve no sentido de estabelecer a comunicação, enquanto a língua é uma forma de linguagem.

A língua constitui-se de um sistema de signos, comum a um determinado grupo social, que pela prática da fala e da escrita passa a existir. Assim, a língua é, ao mesmo tempo, um fato social e um ato individual.

A língua possui uma natureza mutável, já que evolui com o passar do tempo, em função do seu uso por diferentes comunidades lingüísticas. Essa característica faz da língua a principal manifestação da faculdade da linguagem.



LÍNGUA ORAL E LÍNGUA ESCRITA

A função social da língua se concretiza a partir da fala, que é a manifestação lingüística que supre as necessidades mais imediatas da comunicação.

Os gestos, a expressão facial, a entonação formam um conjunto de apoio para a efetivação da compreensão, que vai desaparecer no uso da escrita.

A língua escrita não é uma mera transcrição do que se fala. Podemos mesmo considerar a língua escrita como um instrumento fundamental na estruturação do pensamento reflexivo, em função do nível de organização e elaboração intelectual que exige, já que é uma manifestação somente pensada da linguagem e que trabalha no nível das representações mentais.

Se a língua oral possibilita um contato imediato, a língua escrita concorre de forma determinante para a manutenção de uma forma de manifestação da identidade cultural de um povo.



Aula 3 - Pensando a língua em termos de estrutura I



SIGNIFICADOS DA PALAVRA ESTRUTURA

Dicionário Aurélio: ESTRUTURA é...

1. Disposição e ordem das partes de um todo.

2. Disposição e ordem de uma obra literária; composição.

3. O conjunto das partes de uma construção que se destinam a resistir a cargas; armação, esqueleto, arcabouço.

4. Sistema que compreende elementos ordenados e relacionados entre si de forma dinâmica.

A Lingüística é uma ciência da linguagem e o modo de relacionar língua e estrutura é resultante de um posicionamento epistemológico em face dessa ciência; ou seja, é fruto de um posicionamento sobre como se constrói o conhecimento sobre a natureza, o funcionamento e o uso da linguagem.



LÍNGUA COMO SISTEMA DE SIGNOS OU “UNIDADES ABSTRATAS”

O signo, é definido como a associação entre significante (imagem acústica) e significado (conceito). Nesse aspecto, é fundamental observar que a imagem acústica não se confunde com o som. Isso porque, assim como o conceito, ela é psíquica e não física.

Se você comparar a imagem que reproduziu em forma de desenho com a que fez essa outra pessoa, notará diferenças. De acordo com a teoria de Saussure, porém, essas diferenças – assim como aquelas que poderão ser observadas no modo de pronunciar a palavra – não importam, pois será sempre o mesmo significado de “casa” ou “árvore” que virá à mente, quando se pronuncia ou se ouve essas palavras. O laço que une o significante ao significado é arbitrário, convencional e imotivado. Não existe motivo para que “carro” se chame “carro”. Mas uma vez que se atribua esse nome, ele passa a ter um valor na língua e a ser associado, no nosso cérebro, com idéia de carro, e não se pode chamar “carro” de “barco”. Na teoria de Saussure, esse sistema de signos, que é a língua, é formado de unidades abstratas e convencionais.

As relações são estabelecidas entre as intenções e o querer dizer das pessoas expresso pelo modo como elas se apropriam das palavras da língua.

Saussure faz distinção entre língua e fala. Para o lingüista, a língua é um sistema abstrato, um fato social; a fala, ao contrário, é a realização concreta da língua pelo sujeito, sendo, por isso, circunstancial e variável.



SISTEMA, ESTRUTURA E ESTRUTURALISMO: UM POUCO

DE HISTÓRIA

Segundo a tendência Positivista, para que um estudo ganhe o estatuto de ciência, é preciso que seu objeto seja passível de uma observação objetiva e sistemática a fim de, posteriormente, ser substituído por uma visão racional que constitui o principal caráter do espírito positivo.

Com Saussure, a Lingüística ganha um objeto específico – a língua (separada de seu uso, ou seja, da fala) – cuja organização interna, reconhecida como um sistema de relações, atende a esse requisito de objetividade. Essa organização interna – sistema fonológico, morfológico e de signos – será aquilo que seus sucessores chamarão de estrutura, com a finalidade de enfatizar a idéia de que cada elemento da língua só adquire um valor quando se relaciona com o todo de que faz parte.

Os métodos em que estruturas são exploradas através de exercícios de vocabulário, de gramática, de compreensão oral e escrita, em que a língua, explícita ou implicitamente, é vista apenas como um código; ou seja, é entendida como um conjunto de signos que se combinam segundo regras, para que se possa transmitir uma mensagem, isto é, informações de um emissor a um receptor.

Desse modo, muitas vezes, no ensino da Língua Portuguesa, o trabalho com as estruturas lingüísticas separa a língua das pessoas e de um contexto social, afastando da prática pedagógica a possibilidade de contribuir para a formação do aluno cidadão.



Aula 4 - Pensando a língua em termos de estrutura II



CONCEITUANDO “IDEOLOGIA”

A palavra ideologia pode ser definida como sinônimo de “falsa consciência”, isto é, como idéia ou idéias que, pertencendo a apenas uma classe, a dos donos do poder, visam a controlar os governos e as instituições. Ideologia como idéias, cujo efeito é de “mascaramento do real”.

A busca por uma forma de racionalização, isto é, por uma forma convincente de justificar o domínio exercido por uma classe ou grupo dominante representa um dos significados com o qual o termo ideologia pode ser associado. Nesse sentido, ideologia se opõe à ciência e ao pensamento crítico.

Léo Lince pode nos levar a ampliar a visão sobre o significado de ideologia:

A ideologia dominante nestes tempos de eclipse do processo civilizatório é a ideologia da “desideologização”, ou seja, a ideologia que rejeita qualquer corpo de idéias que aspire, pela via do convencimento democrático, ordenar a vida social de uma maneira distinta daquela que serve aos desígnios e domínios de uma elite.

Essa possibilidade de a palavra ideologia poder ser compreendida em sentido restrito ou negativo.



SIGNO IDEOLÓGICO, ENUNCIADO, TEXTO

E INTERAÇÃO VERBAL

Na acepção que define ideologia como um conjunto de idéias, princípios e valores que refletem uma visão de mundo, orientando uma forma de ação.

A linguagem é vista como um sistema de signos ideológicos de caráter dialógico. A teoria dialógica, já nas primeiras décadas do século XX, o estudo de Bakhtin problematiza a relação linguagem e sociedade.

Para Bakhtin, o signo se constitui como uma atitude de uma pessoa em relação a algo e, para ser compreendido, exige também uma atitude-resposta (dialógica) de um outro indivíduo. Assim sendo, segundo essa concepção, o signo não se limita a encontrar seu sentido na relação que o opõe a um outro no interior do sistema lingüístico. A noção de signo configura-se ideologicamente, isto é, todo signo apresenta valor de cunho social e está fundado no ato humano.

Essa constituição do signo (ideológico), sob a base de princípios e valores pessoais e sociais, desencadeia possibilidades que refletem e refratam visões de mundo, diferentes modos de agir, diferentes relações humanas empreendidas. A constituição parcial e a compreensão dos signos acontecem no processo de interação verbal, em que as pessoas realizam um exercício de aproximação entre o signo em observação e outros já conhecidos.

Enquanto em certas abordagens estruturalistas, a língua é tomada como único objeto cuja gramática (em geral, normativa) deve ser ensinada, na abordagem de linguagem de orientação bakhtiniana, o foco recai sobre o enunciado, visto como unidade real da comunicação (não como uma convenção) que pode se constituir tanto sob a forma de trocas verbais como não-verbais.

A linguagem deve ser entendida, como uma atividade dialógica que se funda na interação verbal. Nela, um locutor, a partir de um sistema de signos ideológicos, vai dialogar com os signos de um outro locutor por meio de um processo dinâmico que envolve aspectos verbais (modos de apropriação da língua) e não-verbais.



GÊNEROS DE DISCURSO: AS ESTRUTURAS NOS USOS DA LÍNGUA

De acordo com a perspectiva bakhtiniana que escolhemos apresentar, a linguagem não prevê a autonomia nem da estrutura nem do falante. A linguagem é uma construção dialógica dinâmica em que sempre atua uma memória histórica (a partir de experiências de mundo e de conhecimentos prévios, compartilhados entre as pessoas no plano lingüístico e textual). A observação dos usos da língua permite que apreendamos uma certa estruturação no movimento de construção dessa historicidade, decorrente das particularidades do processo interacional e das especificidades das condições concretas em que os enunciados se realizam (bula de remédios, revista em quadrinhos, propaganda, letra de música etc.).

É preciso que se conheçam e que se explorem, em sala de aula, a dinâmica existente entre significado e tema, bem como entre gênero do discurso e estilo. Na relação dinâmica que se

estabelece entre essas noções reside, na teoria de linguagem que acabamos de apresentar, a relação entre o nível do sistema de normas que regem os gênero de enunciados humanos e o nível das atualizações que ocorrem nas situações de uso, daquilo que pertence à história do desenvolvimento dos ditos.



Aula 5 - Uso da língua1 – quando o sentido é... Sentidos



A teoria dialógica da linguagem, por exemplo, propõe uma distinção entre significado e tema. A significação, corresponde aos elementos que são repetidos no ato enunciativo. Já o tema constitui-se no próprio ato, é único, não-reiterável e construído a partir de correlações que possuem uma história.

A idéia de significação e tema são instâncias que vivem interdependentemente no ato enunciativo ou na enunciação. O tema depende da significação e vice-versa.

O aspecto lingüístico do enunciado somente é considerado na relação com o tema. O que seriam as “mesmas palavras” tem significado diverso, ganhando vida a partir de diferentes orientações sociais, criadas no processo enunciativo, que apontam para diferentes aspectos como diferentes interlocutores, diferentes intenções, situações etc.

“Somente a enunciação tomada em toda a sua amplitude concreta, como fenômeno histórico, possui um tema. (...) O tema é um sistema de signos dinâmico e complexo (...) A significação é um aparato técnico para a realização do tema.” (BAKHTIN, 1929/1988, p. 129)

O tema, é importante que o aluno vise ao sentido contextual e histórico de uma dada palavra, nas condições de uma enunciação concreta. O estudo de significação, deve recorrer à pesquisa do sentido da palavra no sistema da língua. Encontrar um sentido possível é identificar esses dois níveis e estabelecer relação entre eles em uma situação concreta, formulando a questão sobre como se está construindo esse sentido no enunciado. Essas considerações parecem explicar por que razão, mesmo falando uma mesma língua, em uma mesma região, às vezes, acontece não sermos entendidos do modo como queríamos.

No processo de construção de sentido, nosso interlocutor, com base em elementos histórico-sociais, aciona uma “memória discursiva” que pode levá-lo a construções temáticas diferentes daquelas que imaginamos alcançar.

Uma prática comum no ofício de professor: a elaboração de enunciados de prova e as correções efetuadas. Devemos ter cuidado na elaboração de questões. O significado das palavras em si não são garantia para orientar o aluno na direção da resposta certa. Por essa razão, a correção deve ser dialógica, no sentido de levar o aluno a rever a construção que fez no plano do tema. Essa conduta, além de tirar o desconforto vivido pelos alunos com respeito à incoerência do professor de português, poderá levá-lo a testar hipóteses sobre o sentido que está construindo, revendo suas escolhas no plano do significado das palavras.



Aula 6/7 - Uso da língua 2 – quando a estrutura ganha focos diferenciados – funções da linguagem



ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO

É importante termos sempre claro que a efetivação da comunicação só ocorre na medida em que há entendimento do que se diz. Esse entendimento, é o resultado do processo de comunicação. Esse processo, por sua vez, precisa de alguns elementos para acontecer. São os já conhecidos elementos da comunicação.

A comunicação se processa a partir da existência de um emissor – aquele de quem parte a intenção comunicante – , que destina sua mensagem – a própria essência do que será comunicado – a um destinatário – aquele que recebe a mensagem. Essa mensagem chega ao destinatário através de um canal – que é o meio utilizado para enviar a mensagem: o telefone, a internet, a carta – , registrada num determinado código – um sistema organizado, como o verbal, no caso da língua – e gerada num determinado contexto (referente) – que é a referência da mensagem.



FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Karl Bühler, apontava três funções da linguagem: a representativa, em que a informação objetiva predomina; a expressiva, que dá ênfase ao emissor da mensagem; e a apelativa, que centra seu foco no destinatário.Mais tarde, o esquema desenvolvido por Bühler foi ampliado pelo lingüista Roman Jakobson, que manteve as funções apontadas por aquele, mas deu-lhes nomes diferentes, e acrescentou mais três.

A referencial, que enfatiza o contexto, ou referente; a emotiva, centrada no emissor; a conativa, focada no destinatário; a fática, que dá relevo ao canal; a poética, que privilegia a mensagem; e a metalingüística, que dá prevalência ao código.

As funções não ocorrem exclusivamente em cada discurso, isto é, várias ou todas podem estar presentes em determinado enunciado. O que geralmente acontece é a predominância de uma delas. Isso vai ser observado mais especificamente de acordo com a intenção do discurso emitido.

Gillian Brown e George Yule, chegaram a duas funções da linguagem. A divisão por eles feita mostra uma preocupação com o fato lingüístico, sob a perspectiva de sua ocorrência e de sua propriedade dinâmica. Essa preocupação resultou numa divisão que separa as funções da linguagem de maneira mais abrangente:

1- Transacional

2- Interacional aquela que expressa relações sociais e atitudes pessoais.

Podemos dizer que a função transacional é centrada numa perspectiva cognitiva, enquanto a interacional tem um caráter pragmático. Esse caráter pragmático é o que leva em conta a atuação da língua sobre o destinatário, dentro de um determinado contexto. Vários são os elementos lingüísticos capazes de atuar no receptor da mensagem: o léxico, ou seja, a seleção vocabular; a construção sintática; os recursos estilísticos; as estratégias semântico-pragmáticas. Cada um desses elementos tem uma atuação específica, com um objetivo determinado.

Do ponto de vista do uso lexical, a escolha de uma determinada palavra pode alterar a recepção da mensagem.

Quando se trata da ótica sintático-estilística, a arrumação das palavras numa frase revela a intenção do falante, que busca dar mais ênfase em determinada informação.

As estratégias semântico-pragmáticas estão diretamente relacionadas à necessidade de persuasão. Tem uma forte ligação com a capacidade de argumentação do emissor. Há várias maneiras de se obter o efeito persuasivo num determinado enunciado. Nesse sentido, os atos discursivos nem sempre são diretos. Eles podem lançar mão de vários recursos para enunciar uma mensagem.

Resumo de Língua Portuguesa 2 – aulas 8,9/10,11,12 e 13


Aula 8 - Uso da língua 3 – a oralidade e o texto: vícios de linguagem?



Barbarismo é o nome que a gramática dá a um determinado vício de linguagem, como o cometido na situação ilustrada. A definição de barbarismo é todo desvio da norma que ocorre em alguns níveis do uso da língua: o da grafia, o da pronúncia, o da morfologia e o da semântica.



Dependendo do nível em que o desvio ocorre, a mensagem pode ou não ficar prejudicada.

Com relação ao desvio morfológico, pode acontecer de o destinatário não identificar com clareza sua intenção comunicante – ou porque você utilizou uma forma absolutamente incompreensível, ou porque, ainda que compreensível, ela se confunde com outra. Nesse caso, pode haver o comprometimento do processo de comunicação. Esse comprometimento fica ainda mais sério quando o desvio ocorre no nível semântico. Nesse caso, estamos diante do que chamamos de “paronímia”, ou seja, palavras muito parecidas, mas com significados diferentes, que podem ser usadas inadequadamente.

Expressões antigas, chamamos “arcaísmo”. O arcaísmo é outro “vício de linguagem” identificado pela gramática, e podemos considerá-lo um dos candidatos ao prejuízo do processo comunicativo. Não se trata de desqualificar o falante, mas de impedir que o interlocutor receba a mensagem, pois não se pode exigir que as pessoas conheçam vocábulos que a língua já abandonou.

Freqüentemente colocamos o sujeito depois do verbo. Esse desvio não compromete a comunicação. Por outro lado, ela pode funcionar como um fator de desqualificação do falante.

Tudo depende, também, da adequação a um determinado contexto daquilo que se fala. Numa conversa informal, esse deslize pode passar despercebido. Entretanto, num texto formal, ou mesmo numa situação de oralidade em que a formalidade deve ser levada em conta, ele depõe contra o emissor...

O “solecismo” inclui desvios na sintaxe, como concordância, regência e colocação de pronomes. Em nenhuma das três situações há comprometimento da mensagem.

O “cacófato” ocorre sempre que juntamos duas ou mais palavras da frase, produzindo um som desagradável. Deve-se evitar o cacófato, mas ele não compromete o processo de comunicação. É uma ocorrência eminentemente fonética, ou seja, da ordem do som das palavras.

“Eco”, um vício de linguagem resultante da dissonância que o uso de terminações iguais ou semelhantes pode causar.

“redundância”, caracterizada pela repetição desnecessária de uma informação. É aquela construção que, sem perceber, utilizamos, mas identificamos imediatamente quando ouvimos.

Há utilizações mais complexas, em que a redundância fica mais sutil, e, por isso mesmo, causa a impressão de que o emissor está querendo “enrolar”... Contudo, não há prejuízo para a mensagem.

Quando o que se diz gera confusão e admite mais de uma interpretação, dizemos que temos um enunciado com ambigüidade. Esse vício de linguagem pode ser um impedimento à compreensão de uma mensagem. A ambigüidade, portanto, é um dos vícios de linguagem cuja ocorrência é fatal no processo de comunicação.

Obscuridade acontece quando a mensagem fica difícil de ser entendida por problemas em sua construção.

Assim como a ambigüidade, a obscuridade é um empecilho ao processo comunicativo.





Aula 9/10 - Uso da língua 4 – quando o estilo entra no discurso – algumas estratégias



Há um sem-número de estratégias estilísticas, ligadas, sobretudo, aos textos literários.

São procedimentos discursivos capazes de diferenciar a fala de quem os utiliza e, principalmente, de dar mais ou menos relevo a determinadas informações, o que faz com que seus enunciados obtenham um resultado especial, de acordo com objetivos preestabelecidos.

Assim como os chamados “vícios de linguagem”, as estratégias são também “desvios” em relação à língua considerada padrão – a já tão falada norma-padrão. Só que, agora, esses “desvios” são provocados pelo usuário, ou seja, ele até conhece a norma-padrão, mas quer criar um discurso mais expressivo, diferente, novo, e o faz através desses desvios, que se convencionou chamar “figuras de linguagem”.

Metáfora É uma forma de criar uma identificação entre dois elementos, partindo do significado de um deles para emprestá-lo ao outro. Pode acontecer de nos depararmos com metáforas que nem sempre somos capazes de compreender, uma vez que a relação de similaridade não nos fica clara. Isso pode, inclusive, ser parte de uma estratégia discursiva. Muitas vezes, falando por metáforas, garantimos que apenas alguns vão captar o que estamos querendo dizer.

A metáfora, muito presente em textos literários, faz parte, também, de nosso cotidiano. Podemos usar metáforas tanto em textos formais como em situações informais. É uma estratégia estilística que se estende à fala, não estando restrita à escrita.

Uma forma muito conhecida de metonímia é transformar a marca de um produto em seu nome, fazendo com que esse produto passe a ser conhecido pelo nome da marca, que vira, nesse momento, um substantivo comum. Há, ainda, uma outra forma de utilizar essa estratégia estilística. Pode-se dizer que é uma maneira mais lírica, bastante ligada aos textos literários. É quando usamos uma palavra com o significado de outra em razão de uma relação de proximidade entre aquilo que elas significam.

A música de Oswaldo Montenegro “Canta uma canção bonita, falando da vida em ré maior/ canta uma canção daquela de filosofia e um mundo bem melhor”... Como música que é, parte de uma letra lírica, que, por si só, já tem uma série de implicações significativas. O efeito obtido com a repetição da idéia expressa pelo verbo cantar e pelo substantivo canção é o de ênfase na ação que o poeta quer passar. Ao dizer canta uma canção, ele emprega duas palavras do mesmo campo semântico, cujos significados são repetidos. Não é uma redundância, mas um pleonasmo.

O eufemismo, tem como objetivo atenuar, suavizar uma informação ou uma expressão chocante, desagradável, impactante.

Hipérbole, uma figura que consiste em se expressar, por meio do exagero, uma determinada idéia. O exagero da expressão enfatiza a sensação que a falante quer transmitir. Essa estratégia é largamente utilizada em todo tipo de situação comunicacional, desde o texto literário até as conversas mais informais. Fica claro que a opção por uma fala que lance

mão da hipérbole identifica o falante como alguém muito expressivo, que gosta de enfatizar o que diz. Na literatura, ocorre algo semelhante. A opção por uma expressão hiperbólica tem o objetivo da ênfase, e estará vinculada à intenção significativa que o texto traz consigo.

A antítese tem como efeito um impacto sobre o ouvinte/leitor, na medida em que explicita a relação de oposição que as idéias confrontadas carregam. Esse procedimento não é uma exclusividade da literatura – embora seja largamente utilizado nesse âmbito – mas uma possibilidade a qualquer ato de fala. O que se mantém é o objetivo de impactar, que tanto existe no texto literário quanto na fala ou na escrita informal. A antítese, contudo, é muito confundida com uma outra figura de linguagem – o paradoxo.

Antítese é o confronto de idéias opostas.

Paradoxo é a utilização de idéias opostas como se fossem equivalentes.

Paradoxo é fruto de um objetivo diferente: o de criar um estranhamento, de modo a permitir um alargamento de sentido que a antítese não exige.

A ironia é uma figura de linguagem em que uma palavra ou expressão ganha significado oposto ao que normalmente se atribui a ela. Também consideramos ironia não apenas a utilização de palavra ou expressão que tenha o objetivo do deboche, mas qualquer situação em que a intenção é de sátira.

Na fala, a ironia ganha um relevo diferenciado, pois, geralmente, vem acompanhada de expressões faciais e de recursos gestuais que denunciam a intenção comunicante do usuário.

Na literatura, a ironia tem um efeito corrosivo, isto é, ao suscitar o riso como resultado de seu emprego, ela desestrutura verdades até então tidas como inquestionáveis.

Quando fazemos concordâncias, que na verdade se efetuam com palavras ou idéias pressupostas, mas não explícitas, no enunciado, estamos lançando mão da silepse. A silepse, portanto, consiste em concordâncias com termos que deduzimos existir na frase, deixando de lado os que de fato estão ali. A silepse não se restringe ao uso literário.



Aula 11 - Uso da língua 5 – quando a leitura faz o discurso –o texto publicitário



O texto publicitário é, na verdade, a conjugação de tipos diferentes de texto, e a leitura dessa congeminação textual é que vai gerar sentidos. Portanto, o leitor, ou receptor da mensagem, será o construtor daquilo que estará sendo dito. Isso permite dizer que há vários níveis de entendimento num texto publicitário – como, aliás, acontece com os textos, de um modo geral.

A instrumentalização dos recursos que vimos nas aulas anteriores permite que se chegue a diferentes objetivos, ou, no mínimo, que se obtenha efeitos diversos.

Todos níveis de leitura dependem de informações prévias que o leitor pode ou não ter.

Quanto mais profunda a leitura, maior o nível de domínio da informação.

Em muitos casos, a leitura faz o discurso, o texto publicitário é um exemplo.

Uma vez que se dirige ao leitor, instiga-o, provoca-o, e quer convencê-lo da qualidade e da veracidade daquilo que veicula, e, para tanto, lança mão de diversos recursos. Esses recursos criam níveis possíveis de leitura, e, para cada leitor, uma possibilidade nova se concretiza. Por isso dizemos que o discurso será construído pela geração de sentidos que a leitura empreenderá.



Aula 12 - Uso da língua 6 – quando a leitura canta e encanta – o texto de letras de música



A música – considerada também uma manifestação da linguagem – pode servir a determinados objetivos da comunicação e está estreitamente ligada ao processo de aquisição da cidadania e da construção de uma identidade cultural. É importante lembrar que a linguagem, como faculdade mental, tem várias manifestações possíveis. O mesmo se pode dizer a respeito da música.

Ao escutar uma canção em outra língua que não seja a nossa, e que você não compreenda, a música passa a determinar, de certa forma, o significado intuído do que você está ouvindo. Desse modo, se o ritmo é de rock and roll no estilo heavy metal, a tendência é imaginar que a letra não tem relação com uma canção romântica, por exemplo. Do mesmo modo, se a música é lenta, com um instrumental clássico, imediatamente associa-se a canção com uma história de amor.

Isso ocorre porque relacionamos a manifestação representada pela música com uma forma de expressão de sentimentos, o que, de fato, é verdade. A letra de uma canção é uma mensagem e faz parte de um processo de comunicação, com objetivos que podem estar claros ou não. Tudo vai depender da intenção que permeia esse processo e do contexto em que ele se desenvolve.

O momento histórico, assim como a experiência pessoal, o contexto, o ambiente, o corte social, todos esses fatores estão relacionados à composição.

Também é relevante observar quem consome qual tipo de canção. Esse tipo de observação pode nos ajudar a compreender melhor o processo de construção da identidade cultural a partir da música.

O processo de comunicação, no caso das letras de música, está também associado ao ritmo, e os recursos lingüísticos de que dispomos podem fazer uma grande diferença na transmissão da mensagem.



Aula 13 - Uso da língua 7– a leitura para além dos bancos escolares



A vida prática, o nosso dia-a-dia, pressupõe a capacidade de decodificar uma série de textos que nos cercam e que fazem parte da realidade social em que estamos inseridos. Não se trata de ler um livro ou de ouvir uma música como forma de entretenimento ou alargamento do universo cultural. Trata-se de vivenciar o cotidiano de maneira independente, sem que seja necessário um mediador para possibilitar atividades básicas, como locomoção, alimentação, tratamento de saúde.

Nesse sentido, podemos considerar que desenvolver as habilidades de leitura é uma questão de sobrevivência.

Menos crítica, embora também grave, é a situação dos cidadãos considerados alfabetizados – porque são capazes de juntar letras – , mas inaptos a realizar uma leitura plena de um texto, qualquer que seja ele. Essa ausência do letramento – que não pode ser confundido com a simples alfabetização – acaba por transformar esse cidadão em uma espécie de estrangeiro em sua própria terra.

Sabendo que letramento é a capacidade de estabelecer a comunicação a partir do domínio de diferentes códigos, podemos afirmar, sem susto, que o cidadão não letrado corre o risco de ficar à margem do processo sociocultural. Assim, a aquisição das estruturas lingüísticas, que é uma das manifestações da linguagem, passa a ser uma questão com implicações para além dos bancos escolares. Mais do que ler plenamente um texto literário, é necessário que o usuário da língua possa decodificá-la de forma proficiente em todas as situações que fazem parte de sua vida.

Há palavras que não são compreendidas porque simplesmente não fazem parte da realidade de muitos dos usuários da nossa língua, seja do ponto de vista do uso, seja do ponto de vista da vivência.

Há palavras que não são entendidas porque, embora nomeiem objetos conhecidos dos usuários, são substituídas por sinônimos, e há outras que não são conhecidas porque nomeiam coisas com as quais esse usuário jamais teve contato. Assim, temos dificuldades diferentes: uma, de ordem estritamente lingüística, que diz respeito ao desconhecimento da palavra; outra, de ordem socioeconômica, que está relacionada às questões sociais que explicam o fato de um cidadão não conhecer, por exemplo, o prato da culinária italiana.

Ao percebermos que uma receita culinária ou uma bula de remédio, por exemplo, podem se tornar um desafio para alguém, estamos reiterando a idéia de que a leitura de mundo não pode ser confundida com o simples “juntar letras.” Enquanto aceitarmos, como professores, um ensino descritivo da língua portuguesa como informação suficiente para o domínio dessa mesma língua, estaremos insistindo num equívoco – quando não num engodo – que só entrava a conquista da plena cidadania.


Resumo de Língua Portuguesa 2 – aulas 8,9/10,11,12 e 13
Aula 8 - Uso da língua 3 – a oralidade e o texto: vícios de linguagem?

Barbarismo é o nome que a gramática dá a um determinado vício de linguagem, como o cometido na situação ilustrada. A definição de barbarismo é todo desvio da norma que ocorre em alguns níveis do uso da língua: o da grafia, o da pronúncia, o da morfologia e o da semântica.
Dependendo do nível em que o desvio ocorre, a mensagem pode ou não ficar prejudicada.
Com relação ao desvio morfológico, pode acontecer de o destinatário não identificar com clareza sua intenção comunicante – ou porque você utilizou uma forma absolutamente incompreensível, ou porque, ainda que compreensível, ela se confunde com outra. Nesse caso, pode haver o comprometimento do processo de comunicação. Esse comprometimento fica ainda mais sério quando o desvio ocorre no nível semântico. Nesse caso, estamos diante do que chamamos de “paronímia”, ou seja, palavras muito parecidas, mas com significados diferentes, que podem ser usadas inadequadamente.
Expressões antigas, chamamos “arcaísmo”. O arcaísmo é outro “vício de linguagem” identificado pela gramática, e podemos considerá-lo um dos candidatos ao prejuízo do processo comunicativo. Não se trata de desqualificar o falante, mas de impedir que o interlocutor receba a mensagem, pois não se pode exigir que as pessoas conheçam vocábulos que a língua já abandonou.
Freqüentemente colocamos o sujeito depois do verbo. Esse desvio não compromete a comunicação. Por outro lado, ela pode funcionar como um fator de desqualificação do falante.
Tudo depende, também, da adequação a um determinado contexto daquilo que se fala. Numa conversa informal, esse deslize pode passar despercebido. Entretanto, num texto formal, ou mesmo numa situação de oralidade em que a formalidade deve ser levada em conta, ele depõe contra o emissor...
O “solecismo” inclui desvios na sintaxe, como concordância, regência e colocação de pronomes. Em nenhuma das três situações há comprometimento da mensagem.
O “cacófato” ocorre sempre que juntamos duas ou mais palavras da frase, produzindo um som desagradável. Deve-se evitar o cacófato, mas ele não compromete o processo de comunicação. É uma ocorrência eminentemente fonética, ou seja, da ordem do som das palavras.
“Eco”, um vício de linguagem resultante da dissonância que o uso de terminações iguais ou semelhantes pode causar.
“redundância”, caracterizada pela repetição desnecessária de uma informação. É aquela construção que, sem perceber, utilizamos, mas identificamos imediatamente quando ouvimos.
Há utilizações mais complexas, em que a redundância fica mais sutil, e, por isso mesmo, causa a impressão de que o emissor está querendo “enrolar”... Contudo, não há prejuízo para a mensagem.
Quando o que se diz gera confusão e admite mais de uma interpretação, dizemos que temos um enunciado com ambigüidade. Esse vício de linguagem pode ser um impedimento à compreensão de uma mensagem. A ambigüidade, portanto, é um dos vícios de linguagem cuja ocorrência é fatal no processo de comunicação.
Obscuridade acontece quando a mensagem fica difícil de ser entendida por problemas em sua construção.
Assim como a ambigüidade, a obscuridade é um empecilho ao processo comunicativo.

Aula 9/10 - Uso da língua 4 – quando o estilo entra no discurso – algumas estratégias

Há um sem-número de estratégias estilísticas, ligadas, sobretudo, aos textos literários.
São procedimentos discursivos capazes de diferenciar a fala de quem os utiliza e, principalmente, de dar mais ou menos relevo a determinadas informações, o que faz com que seus enunciados obtenham um resultado especial, de acordo com objetivos preestabelecidos.
Assim como os chamados “vícios de linguagem”, as estratégias são também “desvios” em relação à língua considerada padrão – a já tão falada norma-padrão. Só que, agora, esses “desvios” são provocados pelo usuário, ou seja, ele até conhece a norma-padrão, mas quer criar um discurso mais expressivo, diferente, novo, e o faz através desses desvios, que se convencionou chamar “figuras de linguagem”.
Metáfora É uma forma de criar uma identificação entre dois elementos, partindo do significado de um deles para emprestá-lo ao outro. Pode acontecer de nos depararmos com metáforas que nem sempre somos capazes de compreender, uma vez que a relação de similaridade não nos fica clara. Isso pode, inclusive, ser parte de uma estratégia discursiva. Muitas vezes, falando por metáforas, garantimos que apenas alguns vão captar o que estamos querendo dizer.
A metáfora, muito presente em textos literários, faz parte, também, de nosso cotidiano. Podemos usar metáforas tanto em textos formais como em situações informais. É uma estratégia estilística que se estende à fala, não estando restrita à escrita.
Uma forma muito conhecida de metonímia é transformar a marca de um produto em seu nome, fazendo com que esse produto passe a ser conhecido pelo nome da marca, que vira, nesse momento, um substantivo comum. Há, ainda, uma outra forma de utilizar essa estratégia estilística. Pode-se dizer que é uma maneira mais lírica, bastante ligada aos textos literários. É quando usamos uma palavra com o significado de outra em razão de uma relação de proximidade entre aquilo que elas significam.
A música de Oswaldo Montenegro “Canta uma canção bonita, falando da vida em ré maior/ canta uma canção daquela de filosofia e um mundo bem melhor”... Como música que é, parte de uma letra lírica, que, por si só, já tem uma série de implicações significativas. O efeito obtido com a repetição da idéia expressa pelo verbo cantar e pelo substantivo canção é o de ênfase na ação que o poeta quer passar. Ao dizer canta uma canção, ele emprega duas palavras do mesmo campo semântico, cujos significados são repetidos. Não é uma redundância, mas um pleonasmo.
O eufemismo, tem como objetivo atenuar, suavizar uma informação ou uma expressão chocante, desagradável, impactante.
Hipérbole, uma figura que consiste em se expressar, por meio do exagero, uma determinada idéia. O exagero da expressão enfatiza a sensação que a falante quer transmitir. Essa estratégia é largamente utilizada em todo tipo de situação comunicacional, desde o texto literário até as conversas mais informais. Fica claro que a opção por uma fala que lance
mão da hipérbole identifica o falante como alguém muito expressivo, que gosta de enfatizar o que diz. Na literatura, ocorre algo semelhante. A opção por uma expressão hiperbólica tem o objetivo da ênfase, e estará vinculada à intenção significativa que o texto traz consigo.
A antítese tem como efeito um impacto sobre o ouvinte/leitor, na medida em que explicita a relação de oposição que as idéias confrontadas carregam. Esse procedimento não é uma exclusividade da literatura – embora seja largamente utilizado nesse âmbito – mas uma possibilidade a qualquer ato de fala. O que se mantém é o objetivo de impactar, que tanto existe no texto literário quanto na fala ou na escrita informal. A antítese, contudo, é muito confundida com uma outra figura de linguagem – o paradoxo.
àAntítese é o confronto de idéias opostas.
àParadoxo é a utilização de idéias opostas como se fossem equivalentes.
Paradoxo é fruto de um objetivo diferente: o de criar um estranhamento, de modo a permitir um alargamento de sentido que a antítese não exige.
A ironia é uma figura de linguagem em que uma palavra ou expressão ganha significado oposto ao que normalmente se atribui a ela. Também consideramos ironia não apenas a utilização de palavra ou expressão que tenha o objetivo do deboche, mas qualquer situação em que a intenção é de sátira.
Na fala, a ironia ganha um relevo diferenciado, pois, geralmente, vem acompanhada de expressões faciais e de recursos gestuais que denunciam a intenção comunicante do usuário.
Na literatura, a ironia tem um efeito corrosivo, isto é, ao suscitar o riso como resultado de seu emprego, ela desestrutura verdades até então tidas como inquestionáveis.
Quando fazemos concordâncias, que na verdade se efetuam com palavras ou idéias pressupostas, mas não explícitas, no enunciado, estamos lançando mão da silepse. A silepse, portanto, consiste em concordâncias com termos que deduzimos existir na frase, deixando de lado os que de fato estão ali. A silepse não se restringe ao uso literário.

Aula 11 - Uso da língua 5 – quando a leitura faz o discurso –o texto publicitário

O texto publicitário é, na verdade, a conjugação de tipos diferentes de texto, e a leitura dessa congeminação textual é que vai gerar sentidos. Portanto, o leitor, ou receptor da mensagem, será o construtor daquilo que estará sendo dito. Isso permite dizer que há vários níveis de entendimento num texto publicitário – como, aliás, acontece com os textos, de um modo geral.
A instrumentalização dos recursos que vimos nas aulas anteriores permite que se chegue a diferentes objetivos, ou, no mínimo, que se obtenha efeitos diversos.
Todos níveis de leitura dependem de informações prévias que o leitor pode ou não ter.
Quanto mais profunda a leitura, maior o nível de domínio da informação.
Em muitos casos, a leitura faz o discurso, o texto publicitário é um exemplo.
Uma vez que se dirige ao leitor, instiga-o, provoca-o, e quer convencê-lo da qualidade e da veracidade daquilo que veicula, e, para tanto, lança mão de diversos recursos. Esses recursos criam níveis possíveis de leitura, e, para cada leitor, uma possibilidade nova se concretiza. Por isso dizemos que o discurso será construído pela geração de sentidos que a leitura empreenderá.

Aula 12 - Uso da língua 6 – quando a leitura canta e encanta – o texto de letras de música

A música – considerada também uma manifestação da linguagem – pode servir a determinados objetivos da comunicação e está estreitamente ligada ao processo de aquisição da cidadania e da construção de uma identidade cultural. É importante lembrar que a linguagem, como faculdade mental, tem várias manifestações possíveis. O mesmo se pode dizer a respeito da música.
Ao escutar uma canção em outra língua que não seja a nossa, e que você não compreenda, a música passa a determinar, de certa forma, o significado intuído do que você está ouvindo. Desse modo, se o ritmo é de rock and roll no estilo heavy metal, a tendência é imaginar que a letra não tem relação com uma canção romântica, por exemplo. Do mesmo modo, se a música é lenta, com um instrumental clássico, imediatamente associa-se a canção com uma história de amor.
Isso ocorre porque relacionamos a manifestação representada pela música com uma forma de expressão de sentimentos, o que, de fato, é verdade. A letra de uma canção é uma mensagem e faz parte de um processo de comunicação, com objetivos que podem estar claros ou não. Tudo vai depender da intenção que permeia esse processo e do contexto em que ele se desenvolve.
O momento histórico, assim como a experiência pessoal, o contexto, o ambiente, o corte social, todos esses fatores estão relacionados à composição.
Também é relevante observar quem consome qual tipo de canção. Esse tipo de observação pode nos ajudar a compreender melhor o processo de construção da identidade cultural a partir da música.
O processo de comunicação, no caso das letras de música, está também associado ao ritmo, e os recursos lingüísticos de que dispomos podem fazer uma grande diferença na transmissão da mensagem.

Aula 13 - Uso da língua 7– a leitura para além dos bancos escolares

A vida prática, o nosso dia-a-dia, pressupõe a capacidade de decodificar uma série de textos que nos cercam e que fazem parte da realidade social em que estamos inseridos. Não se trata de ler um livro ou de ouvir uma música como forma de entretenimento ou alargamento do universo cultural. Trata-se de vivenciar o cotidiano de maneira independente, sem que seja necessário um mediador para possibilitar atividades básicas, como locomoção, alimentação, tratamento de saúde.
Nesse sentido, podemos considerar que desenvolver as habilidades de leitura é uma questão de sobrevivência.
Menos crítica, embora também grave, é a situação dos cidadãos considerados alfabetizados – porque são capazes de juntar letras – , mas inaptos a realizar uma leitura plena de um texto, qualquer que seja ele. Essa ausência do letramento – que não pode ser confundido com a simples alfabetização – acaba por transformar esse cidadão em uma espécie de estrangeiro em sua própria terra.
Sabendo que letramento é a capacidade de estabelecer a comunicação a partir do domínio de diferentes códigos, podemos afirmar, sem susto, que o cidadão não letrado corre o risco de ficar à margem do processo sociocultural. Assim, a aquisição das estruturas lingüísticas, que é uma das manifestações da linguagem, passa a ser uma questão com implicações para além dos bancos escolares. Mais do que ler plenamente um texto literário, é necessário que o usuário da língua possa decodificá-la de forma proficiente em todas as situações que fazem parte de sua vida.
Há palavras que não são compreendidas porque simplesmente não fazem parte da realidade de muitos dos usuários da nossa língua, seja do ponto de vista do uso, seja do ponto de vista da vivência.
Há palavras que não são entendidas porque, embora nomeiem objetos conhecidos dos usuários, são substituídas por sinônimos, e há outras que não são conhecidas porque nomeiam coisas com as quais esse usuário jamais teve contato. Assim, temos dificuldades diferentes: uma, de ordem estritamente lingüística, que diz respeito ao desconhecimento da palavra; outra, de ordem socioeconômica, que está relacionada às questões sociais que explicam o fato de um cidadão não conhecer, por exemplo, o prato da culinária italiana.
Ao percebermos que uma receita culinária ou uma bula de remédio, por exemplo, podem se tornar um desafio para alguém, estamos reiterando a idéia de que a leitura de mundo não pode ser confundida com o simples “juntar letras.” Enquanto aceitarmos, como professores, um ensino descritivo da língua portuguesa como informação suficiente para o domínio dessa mesma língua, estaremos insistindo num equívoco – quando não num engodo – que só entrava a conquista da plena cidadania.


Resumo de LP2 – Aula 14/15,16,17,18,19,20,21,22e23
Aula 14/15 - Pondo a mão na massa 1
A utilização de recursos estilísticos, ainda que possível em qualquer tipo de texto, fica mais patente nos textos literários.
Letras de músicas, essas letras são poemas, que recebem uma melodia.
Ainda falando sobre as letras de canções, tem um tipo de composição que se caracteriza por empreender crítica explícita a uma série de mazelas sociais e políticas. Essas composições identificam as novas gerações e têm como marca o ritmo contínuo e a letra quase recitada. O  rap é o exemplo.
Há muitos outros tipos de texto com que lidamos diariamente e, como esses que vimos, nem sempre há garantias de que eles serão plenamente entendidos por todos. Por isso, refletir a respeito da aquisição das habilidades lingüísticas como forma de reivindicar a cidadania e conquistar um espaço na sociedade continua sendo objeto de nossas preocupações.

Aula 16 - O conhecimento prévio e os gêneros do discurso
Quando lemos um texto, resgatamos os conhecimentos que adquirimos em outras leituras/vivências para contextualizá-lo e interpretá-lo adequadamente. É isso que chamamos de CONHECIMENTO PRÉVIO.
No entanto, para garantir a eficácia da utilização desse conhecimento em diferentes situações, é necessário observar, reconhecer e nomear os elementos textuais e não textuais que orientam a escolha dos itens que melhor nos ajudam a compor um sentido para os textos. A observação desses itens deve instrumentalizar os alunos de modo que, depois, individualmente, possam lançar mão daqueles que funcionam como as ferramentas mais eficientes para os problemas de construção e produção de sentido a resolver.
É importante verificarmos que essa orientação deve partir da observação dos vários níveis de conhecimento que os alunos já possuem acerca dos elementos culturais que os rodeiam, entre eles os gêneros de discurso ou de enunciado, explorando neles aquilo que permite distingui-los como pertencendo a um determinado gênero, diferenciá-los ou aproximá-los de outros. De acordo com a análise do conjunto de aspectos que os tornam singulares, bem como das semelhanças e diferenças entre os diversos gêneros, os alunos poderão perceber que essas particularidades estão a serviço do tipo de intenção, dos interlocutores envolvidos na situação, do tipo de atividade em que se está inserido, e assim por diante.
É possível  dividir o conhecimento prévio em grandes níveis. Há o que chamamos de conhecimento de mundo; há o que chamamos conhecimento enciclopédico; há um nível de conhecimento lingüístico do qual fazemos uso diariamente; e, por fim, há aquele nível de conhecimento que engloba tudo que sabemos sobre gêneros do discurso. Esses níveis se articulam, não são isolados.

O CONHECIMENTO DE MUNDO
O conhecimento de mundo pode ser definido como o conjunto de conhecimentos que os indivíduos de uma mesma cultura compartilham e que é adquirido informalmente, a partir de experiências pessoais.
Nos ensina Lombardi é esse conhecimento que permite que se possa inferir, com segurança, que tipos de lacunas em seus textos serão preenchidas com facilidade pelo interlocutor.
O enunciador não precisa explicitar detalhes, pois  eles são facilmente inferidos pelos interlocutores, sobretudo se são membros de mesma cultura.
Por outro lado, se o tema tratado diz respeito a uma situação nunca vivenciada pelo interlocutor, terá de ser mais detalhado e explicado.
Para melhor organizar o estudo de seus alunos em função do nível de conhecimento de mundo, você, professor, precisa conhecê-los: saber onde moram, com quem moram, em que trabalham, que atividades desempenham como lazer etc.

O CONHECIMENTO ENCICLOPÉDICO
O saber enciclopédico diz respeito ao conjunto de conhecimentos que os indivíduos vão adquirindo por meio de aprendizado formal. Isso não significa que tais conhecimentos se restrinjam àqueles que a escola proporciona. São também os que a curiosidade e o interesse nos levam a adquirir por meio da leitura de diferentes textos. Esse nível de conhecimento é o que permite ao leitor fazer relações entre o que é dito ou mostrado em diferentes linguagens aqui e agora e outras imagens e outros ditos compartilhados em outros lugares e em outras situações.  A qualidade e a extensão do saber enciclopédico permitem ao aluno sustentar sua atitude responsiva por meio de relações estabelecidas em um campo infinito de possibilidades intertextuais de compreensão dialógica.

O CONHECIMENTO LINGÜÍSTICO
O conhecimento lingüístico refere-se à competência do enunciador em relação à sua gramática interna; ou seja, diz respeito àquelas regras de linguagem que lhe permitem concretamente tecer textos, bem como perceber a maneira pela qual um texto foi tecido.
Observa-se que o conhecimento lingüístico diz respeito ao conhecimento do significado das palavras, à maneira de organizá-las em seqüência, ou seja, a sua ligação interna; ao modo de lidar com o discurso relatado (discurso direto, indireto, indireto livre); à maneira de garantir a coesão textual etc.
No processo de leitura, por exemplo, o conhecimento lingüístico permite ao leitor perceber as palavras, os grupos de palavras, as seqüências maiores, de modo a reconstruir os elos de coesão entre esses elementos, através das instruções lingüísticas fornecidas pelo autor do texto.

O CONHECIMENTO TEXTUAL
O conhecimento textual engloba tudo que sabemos sobre diferentes gêneros discursivos, pelo fato de fazermos uso da língua para nos comunicarmos em diferentes situações e contextos. Desde os gêneros mais primários, como a conversa cotidiana,  até os gêneros mais complexos, que exigem aprendizagem formal.

Aula 17 - Os gêneros do discurso: as teorias

SIGNIFICADOS DE GÊNERO
A palavra  gênero está associada a muitas idéias que variam de acordo com a área do conhecimento e com o contexto em que é empregada.
No século XX, tornou-se um conceito teórico importante no campo da Lingüística Textual, que faz referências a gêneros textuais, e, no campo que mais recentemente se conhece como de Análise Dialógica do Discurso, a partir dos estudos de Bakhtin, faz-se referência a gêneros do discurso.

GÊNEROS NA LITERATURA
Na Grécia Antiga, no campo da Literatura, o termo gênero literário foi usado para distinguir inicialmente três categorias de enunciado: o lírico, o dramático e o épico. Para essa categorização genérica, os gregos se basearam nas três faculdades da alma humana consideradas essenciais: sensibilidade, vontade e inteligência. Essas faculdades manifestas em obras literárias foram observadas nos três gêneros:
1. No gênero lírico, a sensibilidade se manifesta pela expressividade;
2. No gênero dramático, a vontade se manifesta pela apelação;
3. E, por fim, no épico, a manifestação da inteligência é observada na coesão e na coerência exigidas nos processos lingüístico-discursivos de se fazer referência.
É interessante verificar que a partir dessa categorização genérica do enunciado, ainda na Grécia, foram estabelecidas três funções da linguagem: a função emotiva ou expressiva; a função apelativa ou conativa e a função informativa ou referencial.

O ÉPICO, O DRAMÁTICO E O LÍRICO
1. O gênero épico,  grosso modo, caracteriza-se pela narrativa em verso ou prosa que expressa o modo temporal ou sucessivo dos acontecimentos. Assim, o tempo é o fator estrutural mais importante do gênero épico, do qual fazem parte a epopéia, o mito, a lenda, a saga, a legenda, o romance, a novela, o conto, a parábola etc.
2. O gênero dramático, grosso modo, caracteriza-se pelos diálogos. Embora apresente uma ação situada no passado, ela é reproduzida no presente pelo desempenho dos atores no palco, sob forma de tragédia, comédia, farsa, tragicomédia etc.
3. O gênero lírico caracteriza-se pela predominância de uma voz central, um “eu” lírico (que não é um “eu” individual) que se funde com o mundo e exprime seus próprios estados de alma, emoções, disposições psíquicas, concepções, reflexões, visões, sentimentos; tais estados são intensamente vividos e experimentados através de um discurso breve, conciso , denso e extremamente expressivo, construído com ritmo, musicalidade e imagens como o canto, a ode e a elegia.

GÊNEROS SOB A ÓTICA DA LINGUISTICA
Por sua tradição no campo da Literatura, o termo gênero foi evitado nos estudos lingüísticos durante boa parte do século XX. Os lingüistas queriam delimitar bem uma fronteira entre a recém-criada ciência e a Literatura. Além disso, ainda não se interessavam por nada próximo ao enunciado ou ao discurso; praticavam a Lingüística da frase e, por isso, julgavam pertencer o termo gênero a uma terminologia sem relevância para seus estudos.
A primeira lingüística – a Lingüística da língua – inaugura o período que reuniu um grupo de autores que praticou o que se conhece como Lingüística da frase.
É de se esperar que, em um estudo da frase, a questão do gênero não se coloque. Nos anos 60 e 70, na transição de uma Lingüística da frase para uma Lingüística do texto, porém, o tema dos gêneros é abordado e se faz relevante.
A Lingüística textual surge justamente de um movimento de lingüistas; eles começaram a estudar fenômenos que pareciam ultrapassar os limites da frase. Seu objetivo, porém, voltou-se  para construir um mecanismo apto a engendrar textos, uma gramática de texto que deveria representar um modelo da competência do falante.  Assim, apesar das intenções iniciais, o objeto de estudo na Lingüística Textual continuou a ser o componente lingüístico em si, sendo os dados contextuais e situacionais tratados como dados adicionais.

GÊNEROS DO DISCURSO – A TEORIA DOS ENUNCIADOS HUMANOS
Mikhail Bakhtin, em seu artigo Gêneros do discurso, observa que os gêneros, tanto na Antigüidade quanto na Pós-Modernidade, sempre foram estudados pelo ângulo artístico-literário de sua especificidade. Tomando o enunciado como unidade concreta da comunicação verbal, Bakhtin propõe, então, uma teoria geral do enunciado. Nela, a riqueza e a variedade dos enunciados humanos deixam de ser abordadas sob a ótica de modelos ideais de textos, para serem abordadas em sua natureza de atividade. Bakhtin propõe uma teoria em que os gêneros literários são vistos como tipos particulares de enunciados que existem ao lado de outros não literários.
De acordo com essa concepção, todo enunciado tem em comum o fato de que remete a um sujeito, a uma fonte enunciativa; provém de um querer dizer orientado ao seu interlocutor; é regido por normas.
Segundo o autor, cada domínio ou esfera de utilização da língua elabora tipos relativamente estáveis de enunciados orais e escritos. Os enunciados são marcados por uma especificidade do domínio de atividades de que fazem parte.
Em nosso entendimento, para essa teoria, a noção de gênero abarca a idéia de um artefato técnico, de uma ferramenta para dizer e fazer em determinada situação. Em sala de aula, professor, é nosso papel organizar o estudo dos alunos, oferecendo-lhe essas ferramentas.
Trazer variedade de enunciados (quadrinhos, cartazes, desenhos, filmes, textos literários e não literários etc), convidando os alunos a estabelecer correlação entre eles, torna-se, então, tarefa do professor.

O PLURILINGÜISMO
Para apreender o conceito de plurilingüismo social, é preciso entender que, se a natureza do enunciado é social e singular ao mesmo tempo, é porque as pessoas se constituem como singulares e sociais.  Leia a concepção de sujeito apresentada por Bakhtin e muito bem resumida por Faraco (2003):
(...) nenhum sujeito absorve uma só voz social, mas sempre muitas vozes. Assim, ele não é entendido como um ente verbalmente uno, mas como um agitado balaio de vozes sociais e seus inúmeros encontros e entrechoques. O mundo interior é, então, uma espécie de microcosmo heteroglótico, constituído a partir da internalização dinâmica e ininterrupta da heteroglossia social. Em outros termos, o mundo interior é uma arena povoada de vozes em suas múltiplas relações de consonâncias e dissonâncias; e em permanente movimento, já que a interação socioideológica é um contínuo devir (p. 81).
Dessa característica heterogênea do sujeito decorre ser o plurilingüismo uma característica fundamental do enunciado.
Acreditamos que o estudo dos gêneros e a do plurilingüismo oferecem materiais de reflexão para elaboração da caixa de ferramentas a ser constituída pelo professor a fi  m de auxiliá-lo na formação do aluno-leitor/aluno-autor plurilíngüe. Essa caixa deve ser constituída de textos de diferentes gêneros e linguagens  nos quais também possam ser percebidas diferentes vozes e pontos de vista.

Aula 18 - Os gêneros do discurso: a prática
Cada domínio ou esfera de utilização da língua elabora tipos relativamente estáveis de enunciados orais e escritos que chamamos gêneros do discurso. Assim, os enunciados são marcados por uma especificidade do domínio de atividades de que fazem parte. A eles, podemos dizer, estão indissoluvelmente associadas três características:
1) o tema;
2) a forma composicional;
3) o estilo.
Nos gêneros, os temas podem instaurar um campo de estabilidades, mas vivem eles mesmos no ponto de tensão entre o que é esperado e o efeito que o autor deseja produzir. Em editoriais de revistas, por exemplo, vimos que o tema tratado, em geral, é uma informação prévia sobre os principais conteúdos abordados na revista.
A forma composicional é o que se pode ver na composição dos enunciados no que diz respeito às especificidades de sua organização, como divisão em seções, introdução, desenvolvimento, conclusão.
Quanto ao estilo, observamos a predominância do estilo dialógico. Lançando perguntas diretamente ao leitor, usando forma direta de tratamento (você, nós...), escolhendo um registro de linguagem que o deixe mais próximo ao leitor (no caso, informal), o editorial é um gênero de discurso que instaura um diálogo com o leitor, visando a torná-lo íntimo e parceiro da publicação.
Nos ensina Lombardi (2004) que
quando escrevemos um texto, precisamos saber em que gênero ele irá se constituir, partindo da preocupação com cada um dos aspectos levantados acima. “Para quem escrevo?”; “Com que objetivo?”; “Que papel assumo quando escrevo?”; “Como isso tudo deverá refletir no texto?” são perguntas que não podem deixar de ser feitas antes que comecemos. As marcas de cada um desses aspectos devem ficar claras no texto para que o leitor as recupere e possa reconstruí-lo da maneira mais adequada possível. Afinal, você nunca se perguntou se o trabalho que você iria entregar deveria ter capa ou não? Nunca se preocupou em dar mais ou menos destaque a uma ou a outra parte? A estabelecer uma hierarquia de titulagens e subtitulagens? Em escolher as expressões mais adequadas para o grau de formalidade que o seu interlocutor impõe?”
Nessa direção, professor, é produtivo pensar em gênero do discurso como ferramenta a ser oferecida no trabalho de organização do estudo dos alunos. É importante que os alunos  percebam que quando enunciamos, lançamos mão de formas de discurso constitutivas de gêneros previamente existentes, formas que estão disponíveis para uma determinada situação, segundo princípios de natureza social. Esses gêneros fixam, em um dado meio, o regime social de funcionamento da língua. Trata-se de um estoque de enunciados esperados protótipos de maneiras de dizer ou de não dizer em um espaço sociodiscursivo.
A noção de gênero do discurso está associada à idéia de um sistema de normas a que os sujeitos precisam se submeter para se inscreverem na comunicação humana. É importante observar que esse sistema de normas se funda nas relações sociais, diferenciando-se, portanto, da idéia de sistema restrita a uma coerência interna de normas lingüísticas.
Em Gêneros do discurso, Bakhtin afirma que
os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira que organizam as formas gramaticais (sintáticas). Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a fala do outro, sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras, pressentir-lhe o gênero, adivinhar-lhe o volume (a extensão aproximada do todo discursivo), a dada estrutura composicional, prever-lhe o fi  m, ou seja, desde o início, somos sensíveis ao todo discursivo que, em seguida, no processo da fala, evidenciará suas diferenciações (BAKHTIN, 1979/1997:302).

Aula 19 - Uso da língua 8 – quando a distância diminui no tempo – os textos de correspondência
Textos escritos, o que leva em conta é que o emissor escreva e o destinatário leia. No entanto, sabemos que nem sempre é assim.
Fazendo uma rápida viagem no tempo, vamos partir da época em que apenas uns poucos privilegiados tinham a chance de aprender a ler e a escrever. O texto escrito ficava restrito a um pequeno grupo, cuja única forma de comunicação, a distância, era a carta.
Na história do Brasil, temos na carta de Pero Vaz de Caminha o primeiro contato entre a colônia e a metrópole.
Acredita que seria possível, com uma única leitura, resumir o que o escrivão da frota de Cabral estava relatando ao Rei? Dificilmente, e isso acontece porque a distância temporal entre a escritura da carta e a nossa leitura traz consigo uma série de obstáculos, como o vocabulário, a diferença sintática e até mesmo o contexto. Então, ainda que letrados, nem todos somos capazes de decifrar o que Caminha está dizendo a D. Manuel.
No caso da carta que usamos como exemplo, a dificuldade  se justifica pela distância temporal. Mas não podemos fingir que o mesmo não acontece com pessoas que vivem na mesma época e que, ainda assim, não são capazes de estabelecer uma comunicação plena por meio de uma carta. Novamente, estamos pisando no terreno do poder da língua, em que quanto mais qualificado um falante se torna tanto maior o domínio que ele tem da língua materna.
Estamos falando dos textos de correspondência, estamos nos referindo, necessariamente, a textos escritos, o que, sem dúvida, expõe muito mais o usuário da língua.
No Brasil mesmo na era da internet, mais da metade da população de nosso país ainda recorre aos correios para se corresponder com pessoas queridas que estão distantes, e muitas delas dependem de outras para que essa troca de notícias aconteça, de fato.
A necessidade de escrever uma carta é diferente da urgência e da objetividade de um telegrama.
Sabemos que se podem escrever cartas de todos os tipos: comerciais, jurídicas, de e para amigos, entre parentes, e as famosas e tão freqüentes cartas de amor.
As sociedades, em geral, dotadas de uma cultura eminentemente gráfica, ou seja, voltada para a escrita como uma das mais importantes formas de manifestação cultural, reconhecem a carta – e, especialmente, a de amor – como veículo ímpar na veiculação e documentação das relações de amor.
É a internet que vem se firmando como veículo de comunicação do terceiro milênio. Pela rede, é possível se comunicar por e-mail, pelos chats, pelos fóruns de discussão, e pelo famoso ICQ. Tais veículos vêm gerando uma série de discussões a respeito do uso da língua portuguesa, uma vez que muitos pais e educadores temem que o vernáculo perca espaço para o que seria um novo código, próprio da era digital.
A comunicação pelo ICQ, por exemplo, pode ser comparada a uma conversa telefônica, só que por escrito. A velocidade exigida para que os interlocutores acompanhem o ritmo do pensamento leva à necessidade do uso de abreviações e encurtamentos, mas, como pudemos ler no artigo, o fato de estarem escrevendo é um exercício de organização de idéias e de argumentação.
Esse sistema não deve ser confundido com uma nova linguagem, como ouvimos com freqüência. Afinal,  já sabemos que a linguagem é uma faculdade mental, e que a língua é uma manifestação dessa faculdade. Por isso, o sistema de códigos usado no ICQ, por exemplo, é mais uma forma de manifestação da linguagem, uma nova maneira de usar a língua visando a um objetivo específico, que é o de instaurar um processo comunicacional ágil.
Não é difícil identificar esse sistema com o telegrama, e mesmo com o bilhete, que, muitas vezes, é escrito de maneira rápida, cheio de abreviações. O importante é constatar que a escrita, em todos esses casos, é veículo de comunicação, e as variações criadas em cada caso buscam atender a um determinado fi  m. Dessa forma, respeitando-se as devidas peculiaridades, podemos dizer que as formas de comunicação escrita mudaram, mas mantêm, como ponto comum, o uso da língua como meio de contato.
Essa constatação nos leva, mais uma vez, a pensar a respeito do trabalho que a escola faz, quando o assunto é ensino da língua materna. É importante notar a preocupação que se tem em separar as situações de uso da língua escrita. ICQ é uma coisa, redação é outra... Na verdade, tudo é redigir. O que muda é a adequação a uma situação mais formal, diferentemente do ICQ, em que se instaura a total informalidade.
Esse tipo de percepção tem relação estreita com a conquista de espaços sociais distintos, na medida em que tem o poder de inserir um indivíduo em contextos diversos, de acordo com sua habilidade de usar adequadamente as formas de expressão que a língua oferece.
Assim, podemos concluir que a comunicação escrita, entre dois usuários da língua, é não apenas uma estratégia de diminuir as distâncias mas também uma forma de expressão que ganha contornos pessoais, independentemente do veículo eleito para estabelecer essa comunicação.

Aula 20 - Uso da língua 9 – quando o objetivo é: informar e opinar
Podemos classificar os textos, para fins didáticos, em duas categorias: texto de opinião e texto de informação. O texto de informação pode transmitir também uma posição do autor, mas essa posição não é central. Em contrapartida, o texto de opinião transmite uma informação, mas estão a serviço da opinião.

Aula 21 - Uso da língua 10 – construindo a opinião: como o autor aparece nos textos
Há modos de utilização da língua que servem à intenção de produzir um efeito de neutralidade ou de isenção.  Há situações em que o autor visa a focalizar o objeto de discurso como se este pudesse falar por si só, sem deixar nenhum rastro de um possível enunciador/autor. Tais procedimentos são constitutivos dos textos que têm a pretensão de  ser, ao máximo possível, genuínos exemplares de textos informativos.
Os elementos  indicadores  de  atitude  ou  estado  psicológico com  que,  no  texto  de  opinião,  o  autor  se  apresenta construindo  sua  posição  sobre  o  objeto  de  discurso em  questão.  Eles  expressam  julgamentos,  opiniões, apreciações. Veja os  exemplos a seguir:
1. O Corinthians,  “derrotado”  antes  do  início da  peleja,  enfrentando  um  adversário  temível,  obteve  a mais  notável  vitória  dos  clubes  nacionais  fora  de  nossas fronteiras...
2. O conjunto corinthiano teve uma atuação brilhante, e a goleada poderia ter atingido a  casa dos seis, oito, que não seria injustiça ao melhor futebol do mundo.
3. Brilhantemente, o trabalho do time confirmou a criatividade e a força do futebol brasileiro.
As  aspas  que  recaem  sobre,  no  caso,  o  adjetivo “derrotado” são um recurso usado pelo enunciador para indicar que suas palavras não correspondem bem à realidade. Nesse tipo de uso específico das aspas, o enunciador delega ao leitor a tarefa de compreender o motivo pelo qual ele está assim chamando sua atenção. No exemplo 1, o  leitor irá pressupor que “derrotado” vem entre aspas porque o enunciador está transferindo a responsabilidade de seu emprego a outra pessoa. Lembra-se? No texto em questão, eram os outros ou a conjuntura que antecipavam a derrota do Corinthians, não necessariamente o autor. Nesse sentido, as aspas representam uma atitude explícita do autor, dirigindo a leitura do leitor.
Mais do que atribuir uma qualidade à atuação, ao adversário ou à vitória, esses adjetivos expressam o julgamento do autor diante das coisas que vê. E isso é feito de modo subjetivo.
Não basta definir o adjetivo como  sendo  elemento  que  caracteriza  o  substantivo,  atribuindo-lhe qualidade, estado ou modo de ser.
Nesse sentido, professor, achamos que o seguinte procedimento  pode ser muito produtivo para o trabalho com as classes de palavras:
1) Selecionar os textos a ser trabalhados com os alunos, segundo predomine a tendência à informação ou à opinião (sem, é claro, dizer isso aos alunos).
2) Elaborar  tarefas de  leitura com vistas a perceber, na atitude dialógica, a opinião que o autor está construindo sobre as coisas, tanto no plano da percepção objetiva (descrição de objetos e de seres, por exemplo) quanto no plano da percepção subjetiva: o que o autor acha disso ou daquilo. Nesse processo, o aluno deverá  perceber a função do adjetivo no próprio uso que faz da  língua, reconhecendo-o como categoria de palavra diferente de outras, podendo, porém, com elas compartilhar a mesma função, tendo em vista a intenção principal do autor de mostrar a opinião que tem sobre as coisas.
Nessa direção, eles poderão ser levados a perceber que a opinião, ou seja, as atitudes apreciativas se concretizam no discurso por meio de diferentes tipos de:
Verbos
A equipe surpreende pela qualidade técnica.
Adjetivos e Substantivos
A própria crítica foi unânime em afirmar: vitória espetacular.
Advérbios
Infelizmente, o time uruguaio não confirmou seu talento nesta partida.

DISSERTAR E ARGUMENTAR
Dissertar  e  argumentar  são  atividades  de  linguagem constitutivas de gêneros discursivos de orientação opinativa.
A dissertação, entendida como exemplar de gênero, é o texto produzido por candidatos a mestre nos cursos de pós-graduação. Fora desse campo de atividade acadêmica de nível superior, a dissertação é vista como um gênero escolar cuja realização se  justifica não em termos de finalidade comunicacional propriamente, mas, sobretudo, em termos de finalidade didática.
No  ato  de  dissertar,  expressamos  o  que  sabemos  ou  o  que acreditamos  saber  sobre um determinado  assunto;  externamos nossa opinião sobre o que é ou o que nos parece ser.
Na  atividade  de  argumentar,  visa-se,  sobretudo,  a  convencer, persuadir  ou  influenciar  o  leitor  ou  ouvinte. Assim,  por meio  desse procedimento, procuramos principalmente formar a opinião do  leitor ou ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está conosco, de que nós é que estamos de posse da verdade. Podemos, então, afirmar que argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer mediante apresentação de razões, em face da evidência das provas e à luz de um raciocínio coerente e consistente.
Acreditamos ser uma prática importante, no sentido de alcançar o objetivo de formar o aluno leitor, promover situações em que se exige do aluno sustentar suas opiniões e posicionamentos, a partir de argumentos ou da contraposição de argumentos.

PROCEDIMENTOS ARGUMENTATIVOS
No campo do jogo, os uruguaios, maravilhados, assistiram  a  um  verdadeiro  “baile”. Não
constava em seu programa. A própria crítica foi unânime  em afirmar: vitória  espetacular.
Afirmou mais: o resultado não espelhou com fidelidade o que foi o andamento da partida.
O  conjunto  corinthiano  teve  uma  atuação brilhante, e a goleada poderia  ter atingido a
casa dos seis, oito, que não seria injustiça ao melhor futebol do mundo.
Nesse  parágrafo,  em  que Antoninho  de Almeida avalia o desempenho do time brasileiro,
você percebe claramente marcada a posição dele a respeito do jogo, que se apóia também naquela da crítica especializada.
Se trata de pessoas “autorizadas” a comentar jogos de futebol. Essa é uma estratégia discursiva muito recorrente em textos de opinião que se valem de procedimentos argumentativos. É o que chamamos de argumento de autoridade.
Ao recuperar outras vozes ou ditos de outras pessoas, o autor cria um espaço dialógico  explícito  no  âmbito  de  seu  texto. Esse  tipo  de  estratégia  é também muito comum em textos do tipo opinativo que se constrói com base em argumentos: o embate dialógico revelador de que o enunciador, em  sua  reflexão,  considerou  o  pensamento  dos  outros  e,  assim, dialogicamente, construiu o seu.

Aula 22 - Uso da língua 11 – quando a palavra é notícia: o jornalismo informativo

METAMORFOSE DO FATO: AS VÁRIAS LEITURAS DE UM ACONTECIMENTO
Há gêneros jornalísticos que se constituem mais em torno do propósito de mostrar uma preocupação real com os fatos, optando por “imprimir notícias  como  notícias,  sem  comentários,  para  se manter  longe  da polêmica” (OLSON, apud MELO, 1983, p. 31).

JORNALISMO: CONCEITO E CATEGORIAS
O jornalismo impresso caracteriza-se como um processo social  de  natureza  política  que  surgiu  da  necessidade  de  informação de diferentes representantes sociais: o cidadão comum, o mercador, os súditos do  rei e o próprio  rei. Guardadas as diferenças entre a  Idade Moderna  e o mundo  contemporâneo, ainda hoje,  cada qual busca o jornal com uma intenção diferente. Isso explica a variedade de seções, ou melhor, de editorias, para usar o termo técnico, em que se divide um jornal. Além de contar, no caso dos jornais de grande circulação, com cadernos semanais que tratam especificamente de determinado assunto, como  Informática, Carros, Turismo  etc.,  em  cada  uma  das  editorias pode haver predominância de um certo gênero do discurso jornalístico. A escolha do gênero  será determinada pela  intenção do  jornal ou do jornalista. Já o estilo do gênero sofrerá influência do tipo de público a que preferencialmente se destina.
No jornalismo impresso circulam inúmeros gêneros de discurso. Cada um deles é publicado em um espaço específico do  jornal ou da revista e  tem objetivos definidos. Podem ou não possuir uma autoria identificada, mas,  em  geral,  essa  autoria  é  a  empresa  jornalística, o  jornalista,  o  colaborador  ou  até mesmo  o  leitor. Certos  gêneros identificam um autor (ou mais) que assume um papel de responsabilidade no  texto  de  acordo  com  a  sua  posição  de  origem  ao  escrevê-lo. Em cada  um  desses  gêneros,  predomina  a  intenção  de  informar  ou  de opinar. A seguir, apresentamos um continuum ilustrativo da tendência predominante em cada um deles:
Ressalta Lombardi (2004), existe também uma outra muito  importante: o  tipo de suporte que o  texto  terá.
Se  ele  será  veiculado  em  uma  revista,  ou  em modo mimeografado, ou em jornais dirigidos a diferentes públicos. Isso deve ser  sempre  levado  em  conta porque, muitas  vezes, há normas muito rígidas para a publicação de um trabalho, por exemplo, em uma revista. Essas normas devem ser seguidas e isso, sem dúvida, interfere no texto que será desenvolvido.

O JORNALISMO INFORMATIVO
A opção por um jornalismo informativo teve como motivação, no passado, a tentativa de burlar a vigilância do Estado.
No  século XIX, a  imprensa norte-americana aumenta  seu  ritmo, adotando o modo de produção industrial. A informação de atualidade torna-se, então, mercadoria. Segundo Melo ainda, em obra já citada, desde então, o jornalismo continua possuindo caráter de participação política, de influência na vida pública, mas é, acima de tudo, transformado em negócio. Nesse contexto, o jornalismo informativo torna-se categoria hegemônica, isto é, preponderante.
O  jornalismo opinativo, porém, não desaparece, mas  tem  seu  espaço reduzido e sua presença circunscrita a certos gêneros de discurso publicados em determinadas seções.
Apresentam-se marcas lingüísticas que apontem para as vozes consideradas autorizadas a ser incluídas na enunciação, ocorrendo o apagamento da presença do enunciador-jornalista. Esse recurso produz o tom de isenção, de imparcialidade. Estaríamos diante do fato e não de uma determinada visão sobre ele, característica essencial do jornalismo informativo.
No entanto, não se pode negar que a escolha do título da notícia é amostra de um processo avaliativo da parte do enunciador-jornalista. Tendo em vista o tamanho e o destaque que ocupam na página, os títulos constituem-se  como os mais  importantes  elementos de uma primeira página.
A  seleção  vocabular  é  outro  recurso  lingüístico  utilizado  em processos avaliativos.

Aula 23 - Uso da língua 12 – quando a palavra comenta: o jornalismo de opinião
Analisando alguns jornais cariocas, percebe-se que, embora ocorra correspondência de assuntos tratados na primeira página, em cada jornal as informações têm, geralmente, valor diferente. Tanto a organização em editorias quanto o número de ocorrência de  chamadas de primeira página  relativas  a determinadas editorias variam.
A  principal diferença entre jornais considerados de qualidade e jornais populares é o fato de que, nesses últimos, “a editoria Cidade é mais representada na primeira página que a  editoria País; há representação da editoria Polícia e a editoria Internacional é bastante inexpressiva”.

TEMAS PRIVILEGIADOS NA IMPRENSA
Os temas que recebem ênfase nas chamadas de primeira página também são elementos importantes na direção de perceber o jornalismo como processo social de natureza política.

O JORNALISMO OPINATIVO
A  notícia,  gênero  do  discurso jornalístico que se pretende essencialmente informativo, vive na tensão entre opinar e informar.
Tal tensão se deve à própria história do jornalismo, mas se deve principalmente à própria natureza constitutivamente ideológica da linguagem verbal. As palavras na língua são “prenhes” de significados que assumem diferentes nuances no curso dialógico das trocas verbais.
Sant’Anna  (2000) estudou o que dizem os manuais de  estilo publicados por dois  jornais de  grande  circulação, um no Brasil  e outro na Argentina, respectivamente, a Folha de S. Paulo e o Clarín. Observou que esses manuais, com respeito à expressão da opinião, prescrevem que ela só deve ocorrer em lugares previamente definidos, embalada em gêneros do discurso específicos, apontando para a possibilidade de o autor assinar ou não.

Resumo de LP2 – Aulas 24,25,26,27,28 e 29/30
Aula 24 - Uso da língua 13 – quando o conhecimento é dirigido a especialistas: o texto científico
Embora a Ciência seja uma  forma de produzir conhecimento em prol da qualidade de vida, nem todos conseguem compreender os conteúdos veiculados em textos acadêmico-científicos.
Quando a intenção é direcionar a comunicação ao público em geral, tanto o suporte terá de ser específico quanto a forma de embalar o conteúdo terá de ser adaptada aos níveis de conhecimento desse leitor leigo.
Você já deve ter ouvido alguém comentar que o discurso dos cientistas é o discurso de doutores, estudiosos ou seres  “iluminados”,  não  acessível  a  pessoas  “comuns”. No  entanto, com base na teoria dos gêneros do discurso, você já pode entender que não se trata disso. Trata-se de um discurso proveniente de aprendizado específico, relativo a uma linguagem também específica, utilizada com propósitos  específicos,  que  identifica  um  determinado  domínio  de atividade humana.

Aula 25 - Uso da língua 14 – quando o conhecimento é expresso de diferentes formas: os gêneros do discurso acadêmico e científico
OS GÊNEROS DO DISCURSO ACADÊMICO E CIENTÍFICO
Nas universidades, nos  centros de pesquisa  e nos  ambientes  a eles  relacionados  circulam  inúmeros  gêneros  do  discurso. Cada  um deles  transita  em  um  contexto  específico,  tem  objetivos  definidos, um autor (ou mais) que assume um papel de responsabilidade no texto de acordo com a sua posição de origem ao escrevê-lo. Alguns desses gêneros podem  ter como público o próprio autor, como é o caso de  resumos e fichamentos, quando  são  realizados  com  a finalidade de  facilitar  a recuperação posterior de conteúdos como enredos, teses, dados, idéias e argumentos dos mais variados tipos de texto. 
Textos  dessa  natureza,  ou  seja,  com  finalidade  didática,  são textos  exclusivamente  acadêmicos. Além  de  resumos  e  fichamentos, há  textos  genericamente  denominados  “trabalhos  acadêmicos”,  que são  apresentados  por  alunos  de  graduação  com  o  intuito  de  serem avaliados  por  seus  professores. Os  demais  gêneros  são  dirigidos  a interlocutores  específicos,  com  objetivos  também muito  específicos.
São esses gêneros: PROJETO DE  PESQUISA,  RELATÓRIO DE  PESQUISA, MONOGRAFIA,  DISSERTAÇÃO,  TESE,  ARTIGO,  ENSAIO, RESENHA E  RESUMO.
Ter domínio sobre a expressão acadêmica e científica, seja ela oral ou escrita, nos permite expor nosso ponto de vista sobre teses, teorias, métodos, resultados e, principalmente, sobre a importância ou não do que está sendo produzido em termos de conhecimento e de tecnologia, numa linguagem aceita pela comunidade acadêmica e científica. Fazer  parte dessa comunidade, ou de qualquer outra, aliás, implica dominar os gêneros do discurso por meio dos quais as pessoas nela se comunicam. Esse domínio se verifica na adequação dos gêneros ao plano dos conceitos e conteúdos apresentados, à ordem em que eles são apresentados, ao modo como o autor se apresenta no texto, como apresenta os outros, ao emprego da norma culta padrão (os gêneros acadêmico e científico devem necessariamente ser expressos respeitando-se a norma culta da língua), ao vocabulário utilizado, às normas técnicas.
Independentemente  da  área  de conhecimento, no texto científico, em geral, é preciso:
1. justificar a pesquisa, definindo e delimitando de forma clara e objetiva o problema a ser abordado ou que já foi;
2.  explicitar os objetivos que  se  tem ou  se  teve, bem  como os resultados obtidos ou esperados com a pesquisa;
3. permitir que o  leitor compreenda o referencial teórico que o ajudou ou ajudará a conduzir a investigação, definindo precisamente os conceitos adotados;
4. especificar a metodologia que  foi ou a que  será empregada, caracterizando o universo considerado para o estudo, as estratégias, os instrumentos necessários ou empregados para a realização da pesquisa – questionários, entrevistas, medições e outros –, os procedimentos de apuração, de coleta e análise de dados.
No  caso de projetos de pesquisa,  é preciso ainda apresentar o cronograma de atividades, bem como os recursos humanos e financeiros necessários para o desenvolvimento do estudo.
Segundo convenções científicas, o sujeito enunciador deve assumir, ou pelo menos  tentar, a postura de um observador distante do objeto observado  como  que  provando  sua  imparcialidade  no  processo  da experiência científica.   Por essa  razão, é comum que, em grande parte dos  enunciados  científicos, o  sujeito  agente  seja  apresentado  como o próprio objeto de análise.
Mesmo  se  quisesse,  o sujeito enunciador não consegue se esconder totalmente por detrás dos enunciados que profere, no discurso  científico, os pronomes pessoais explicitam a origem enunciativa. Porém, essa explicitação ocorre mais raramente  como  “eu”  do  que  como  “nós”. Essa  ocorrência  de nós também    representa  uma  forma  de  atenuar  a  interferência  subjetiva explícita do pesquisador no texto.
Hoje em dia, a tendência nas Ciências Humanas é de assumir a subjetividade constitutiva do discurso científico. Afinal, a ciência não é a expressão de uma verdade inabalável que fala por si só.  Ela é fruto do trabalho de pessoas que interagem e sofrem influência de seu meio político, social e cultural.

Sobre os tempos verbais
As situações de uso do tempo presente nos enunciados acadêmicos e científicos. Normalmente, esse tempo serve para  (1) caracterizar o objeto de pesquisa,  (2) o objetivo da pesquisa ou  (3)  para  se  referir  a  pesquisas  anteriores,  como  nos  exemplos respectivamente apresentados por Coracini (1983, p. 169-170):
(1) “Quanto à dose de radiação, delineiam-se três faixas... as doses baixas caracterizam-se pelas pequenas alterações no crescimento...”
(2) “O presente trabalho visa a... não só observar ...como também detectar a capacidade de um ou mais tecidos originar uma nova plantinha.”
(3) “Na literatura são inúmeros os casos...” “Sabe-se ainda que...”  “Souza-e-Silva afirma que...”
Além de se prestar à apresentação do que foi acima comentado, o  tempo presente  serve,  sobretudo,  à  intenção do  enunciador de, no discurso científico, tecer comentários, discutir, expressar seu envolvimento e,  dessa  forma,  envolver  o  leitor.  Porém,  o  tempo  presente,  segundo Coracini  (1983,  p.  173),  juntamente  com  o  tipo  de  constituição  de frases, a significação dos verbos e a pessoa verbal, transforma o texto numa série de asserções à primeira vista irrefutáveis e inquestionáveis.
Quando  nos tornamos  leitores analistas do discurso, os usos da  língua  se  revelam  como sendo estratégias do enunciador (conscientes ou não).

Aula 26 - Uso da língua 15 – quando o texto é arte – o texto literário
Em  primeiro  lugar,  torna-se  importante  compreender  que  a literariedade  dissocia-se  do  critério  valorativo,  ou  seja,  não  se  trata de  considerar  tal  ou  qual  literatura  boa  ou má. A  singularidade  do discurso literário deve ser buscada no nível de sua organização estrutural.
Uma das teorias que aborda essa especificidade sob essa perspectiva é a de Roman Jakobson sobre as funções da linguagem. O estudioso parte das três funções determinadas por Karl Bühler – a representativa, a expressiva e a apelativa – e passa a redenominá-las, acrescentando mais três. Cria-se, dessa forma, a seguinte relação:
As  funções,  tal  como  foram  identificadas  por  Jakobson, estabelecem pontos de contato com outros estudos a esse respeito, e sua relevância, no estudo da literatura, está diretamente ligada à presença da função poética, que, para Jakobson, é a que predomina no texto literário, que  é,  em  última  instância,  uma  linguagem  de  conotação.  Por  esse caminho, pode-se considerar que a criação literária pressupõe a utilização de  recursos que  vão  além da  tradição  lingüística. O  texto  literário  é criado, segundo esse ponto de vista, a partir de uma multiplicidade de códigos – ideologia, retórica – que vão levá-lo a redefinir informações absorvidas  de  outros  textos. É,  dessa  forma,  um  texto  heterogêneo, conotativo, semanticamente autônomo, com uma verdade própria.
Investido de uma carga conotativa, que consiste em atribuir valores significativos que circundam e penetram o núcleo intelectual de significados de uma palavra – o núcleo denotativo –, o texto literário é plurissignificativo, já que como portador de múltiplas dimensões semânticas, distancia-se do grau zero da linguagem. Assim, ao descobrir as possibilidades latentes que o esperam, esse tipo de texto tem no  leitor um agente que descobre, em conseqüência, a pluralidade do texto, pois ,que, ao admitir a multiplicidade
de  leitura,  ele  admite  também os  vários  significados que  sua  estrutura latente guarda.
Essa estrutura latente constitui aquele nível de leitura que nos leva a “ler nas  entrelinhas”, atingindo vários patamares de  compreensão. A capacidade de ler, inclusive o não dito, caracteriza o que chamamos de proficiência do uso da língua, e esse uso se mostra plenamente atingido justamente  a  partir  do  desenvolvimento  das  habilidades  de  leitura.
Nesse sentido, o texto literário mostra-se especialmente fértil para esse desenvolvimento, na medida em que traz possibilidades várias.
O  texto  literário  constitui  uma  das mais  importantes manifestações culturais de um povo; além de ser, por suas características específicas, uma fonte inequívoca de aquisição das estruturas da língua, esse  tipo de  texto é capaz de  formar usuários proficientes a partir do desenvolvimento das habilidades de  leitura plena. A aquisição dessas habilidades é um caminho importantíssimo para se chegar a conquistas várias, incluindo a da própria cidadania.
Além das metáforas, é importante lembrar que o texto literário lida com as múltiplas possibilidades de leitura. Nesse sentido, os jogos de  palavras  ganham  um  espaço privilegiado  nesse  tipo  de  discurso, já que  facultam a permuta de campos  semânticos.
A notícia é objetiva, despida de recursos estilísticos; a crônica parte da notícia como pretexto para a criação de um texto com imagens que vão além do simples fato.

Aula 27 - Uso da língua 16 – quando a poesia é folheto ou cantoria dos repentistas: a Literatura de Cordel
Leitura plurilíngüe: Literatura Popular em Verso ou Literatura de Cordel. A prática de leitura plurilíngüe prevê a mescla de textos de História, Geografia e Arte, em diferentes linguagens.
Literatura popular  típica do nordeste brasileiro, a Literatura de Cordel compreende o conjunto da poesia impressa nos folhetos de cordel, e o da oral improvisada nas cantorias dos repentistas.
A  denominação Literatura  de Cordel  se  deve  ao  fato  de  os folhetos  ficarem  à  venda,  dependurados  em barbantes ou cordéis.

UM POUCO DE HISTÓRIA E DE GEOGRAFIA DA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL
Desde as primeiras décadas depois do descobrimento do Brasil, foi o Nordeste que  se  tornou  centro do  interesse dos portugueses. Em 1560, quando os índios caetés foram  exterminados no  rio São Francisco,  toda a  costa do Nordeste estava nas mãos dos conquistadores. A matança dos índios continuou até o início do século XVIII.
Depois de tomarem e dividirem a terra, os brancos criaram nova forma de atividade no sertão, a pecuária. Criou-se a junta de bois, que foi usada  irrestritamente para o  transporte do açúcar para os portos. Segundo Daus (1982), o sertão tornou-se (já no século XVII) uma região econômica, sem a qual a estreita faixa de litoral, onde se empregou cada trecho de terra na cana-de-açúcar, não teria podido sobreviver.
A  base  econômica  assegurada  fez  nascer  uma  variedade  da sociedade açucareira, a sociedade sertaneja. É uma sociedade dominada por aristocratas com traços autoritários fortemente marcados.
O  poeta  popular  se  origina,  sem  exceção,  da mesma  camada social de seu público. Proletário e sem outra ocupação, ele se sustenta de seus poemas. Ele é realmente o porta-voz de sua classe e articula uma consciência coletiva.

POR QUE PÔDE DESENVOLVER-SE NO NORDESTE DO BRASIL UMA POESIA ÉPICA INDEPENDENTE?
Ao  lado da poesia  culta  e  erudita, veio  também para o Brasil, em grande escala, a  literatura popular da Península Ibérica, em geral, oralmente, em  forma de canções, romances e contos.
De origem ibérica incontestável, a poesia sertaneja do Nordeste, porém, adquire feição peculiar, adaptando, criando novas formas. A caixa de ressonância da poesia popular épica é constituída pelas duas camadas mais baixas da população do sertão. Assim, algumas designações dos gêneros cantados se relacionam diretamente com os elementos do viver sertanejo.
Da  poesia popular portuguesa no Brasil formou-se uma poesia popular nordestina com traços inteiramente próprios:  cantoria épica no Nordeste, a literatura de cordel, a literatura das massas pobres do Nordeste do Brasil.

OS TEMAS
Essa poesia de cordel encontrou suas mais fecundas e originais expressões  nos  seus  ciclos  dominantes:  o  ciclo  dos  animais,  dos cangaceiros e o religioso.
O ciclo dos animais
Nas narrativas, tanto as antigas quanto as modernas, os heróis de quatro patas não são animais como os outros. Na  poesia  de  cordel,  os  poetas  podem  recorrer  a  uma tradição estabelecida, em que se dá voz a um animal. Múltiplos folhetos contam episódios meio reais, meio imaginários da vida dos vaqueiros e de seus animais.

O ciclo dos cangaceiros
O  êxito do  ciclo dos  cangaceiros no  sertão  foi  e ainda  é  enorme. Trata-se de número  considerável de  folhetos  escritos  em  forma de auto-biografia  fictícia. Esses  folhetos descrevem os  feitos  e a personalidade de Antônio  Silvino  e Lampião, dois dos mais  temidos  chefes  cangaceiros do  sertão.
Os textos do ciclo dos cangaceiros tornam públicos acontecimentos sensacionais,  traduzem  as  notícias  da  imprensa  das  capitais  para  a linguagem  do  habitante  do  sertão  e  as  interpretam  como  o  público gostaria de ouvi-las, mudando-as muitas vezes e dando-lhes nova função.
Possuem três ciclos temáticos:
1) a infância do protagonista (o cangaceiro);
2) o relacionamento dos chefes cangaceiros com seus camaradas;
3) o fim de suas carreiras, a prisão e a morte.
Tais  textos  diferenciam-se  de  todos  os  outros  da  poesia  épica nordestina por uma particularidade formal: a 1ª pessoa do singular na narrativa dos acontecimentos.

O ciclo religioso
Com  relação  ao  ciclo  religioso, Mesquita  (2004)  refere-se  ao catolicismo  popular  rústico,  próprio  da  formação  cultural  do  sertão nordestino, como uma religião popular que se apropriou da figura histórica exponencial do Padre Cícero (1844-1934), elegendo-o como um dos seus santos.  Na Literatura de Cordel, alguns aspectos desse catolicismo popular se colocam em evidência e perduram no folclore com a lembrança de Padre Cícero  como um dos  seus personagens. Mesquita  refere-se  ao  imenso volume de  textos  criados pela  imaginação popular nos quais o Padre Cícero figura como personagem. Por sua popularidade, mesmo passado mais de meio século de sua morte, o Padre Cícero é provavelmente o personagem mais constante na Literatura de Cordel. Segundo Mesquita  (2004), ele aparece como um porta-voz dos valores mais arraigados da população de origem nordestina, como “o trabalho, o respeito ao homem, a proteção aos que sofrem, a igualdade, a ausência de fome, desprendimento de dinheiro, respeito às donzelas, boa convivência, humildade, equilíbrio de conduta”.
Além dos  três ciclos comentados, a Literatura de Cordel conta com outros grandes ciclos: o Grande Ciclo das histórias  fabulosas, o Grande Ciclo das histórias de amor, o Grande Ciclo das histórias sobre acontecimentos históricos e atuais, entre outros.

ALGUNS ASPECTOS FORMAIS DA CANTORIA E DA LITERATURA DE CORDEL (RETIRADOS DA OBRA POÉTICA POPULAR DO NORDESTE, DE SEBASTIÃO NUNES BATISTA)
A B C – O abecê é uma composição poética muito antiga, em que cada estrofe começa com uma letra do alfabeto.
ABOIO – Melopéia plangente e monótona com que os vaqueiros guiam as boiadas ou chamam os bois dispersos.
ADIVINHA    Enigma  popular. O mesmo  que  adivinhação.
CANÇÃO – Poema sem fórmula determinada e de métrica variada, impresso em folhas soltas ou volantes, cantado pelos violeiros nas feiras radiodifusoras do interior.

Aula 28 - O trabalho simultâneo com vários textos é possível?
O BOI
O boi é o animal doméstico do qual o sertanejo brasileiro tira a sua subsistência; representa também a fera selvagem e livre, o monstro, violento e nobre, do qual extrai a sua glória. Na arte popular do Brasil, o boi é presença marcante.
O cavalo
O  cavalo  está  representado na  cultura popular brasileira, mas nunca como herói. É tratado como o aliado do homem, no mesmo pé de igualdade que o cachorro.
Os pássaros
Os  pássaros  são  o  símbolo  plumário  do  Brasil  indígena;  as  borboletas, ao lado de suas pedras preciosas e semipreciosas, a  imagem do Brasil  turístico. Vários  artistas  plásticos  associaram  seu    nome  à fauna local.
A  arte  animalista  floresce  na  cerâmica  popular  do Nordeste. Tal cerâmica pinta toda a vida da região: sertanejos nos seus afazeres diários,  cangaceiros,  grupos  de  retirantes,  sempre  acompanhados de  seus  animais domésticos:  vacas  e  touros,  cachorros  e papagaios, cavalos  e  cabras;  personagens  de  bumba-meu-boi  e  de  cavalhadas. A esta cerâmica ficarão ligados os nomes de Vitalino, pai, ilho e neto, e de Zé Caboclo, de Caruaru.

As carrancas do rio São Francisco
As carrancas representam sempre uma escultura de cabeça e pescoço de alguma figura zooantropomorfa – mistura de detalhes humanos com detalhes animais, apresentando uma expressão de ferocidade ao mesmo tempo hilária, de figura mitológica indeterminada.
As primeiras referências sobre a presença das carrancas no Brasil estão localizadas nas embarcações do rio São Francisco, por volta de 1888. Único meio de transporte para os moradores das áreas ribeirinhas do  São  Francisco,  as  embarcações  concorriam  entre  si  para  atrair  a freguesia. Assim,  os  pesquisadores  indicam  alguns motivos  para a  presença das carrancas nestas barcas:
• os proprietários buscavam decorar suas embarcações de modo a torná-las mais atrativas e, conseqüentemente, conseguir maior número de passageiros;
• concorrer com as embarcações de maior prestígio existentes, à época, no Rio de Janeiro e em Salvador. Algum fazendeiro da região do São Francisco deve ter visto, nos portos destas grandes cidades, os navios decorados com objetos de seus proprietários, e levado o costume para lá;
• além destes fatores exclusivamente decorativos, atribuiu-se também a estas figuras a função de afugentar maus espíritos e proteger as viagens;
  da  somatória  destes  fatores  ou  por  apenas  algum  deles,  o fato é que as carrancas tornaram-se enfeite de proa característico das embarcações  do  rio  São  Francisco,  por muitas  décadas,  originando e  estimulando  uma  “manifestação  artística  coletiva,  com  caracteres comuns, respeitadas as  individualidades de cada artista, como não se encontra em nenhum outro local ou época”(Paulo Pardal).

A prática de leitura na educação nas séries iniciais deve se constituir na leitura plurilíngüe, isto é, que mescla textos de História, Geografia, Arte etc. e textos de diferentes linguagens, como a da pintura, da poesia, da cerâmica sob um fio condutor em comum. A partir do imenso papel exercido pelo reino animal na poesia de cordel e em outras formas de manifestação de arte no Brasil, como pinturas, xilogravuras e cerâmicas, essa prática pôde ser exemplificada.

Aula 29/30 - Pondo a mão na massa II
Não há dúvidas de que, ao lermos um texto, há diferentes níveis de conhecimento que se articulam na direção de construirmos um sentido possível para ele.
O  aluno deve perceber que o  enunciado, para  ser  interpretado, exige a mobilização de saberes diversos: do conhecimento lingüístico ao do gênero de discurso (e todas as implicações, como quem escreve, para quem, com que finalidade...), ao conhecimento enciclopédico e de mundo.
Temos  todas  as  razões  para  entender  que  o  texto  não  deve ser  trabalhado  em  sala  de  aula  como  um  objeto  qualquer. Ele  deve ser  abordado  como  enunciado,  ou  seja,  como  unidade  concreta  da comunicação humana. Por meio dessa compreensão, o aluno-leitor/autor saberá que não deverá assumir um papel passivo,  como  se o  sentido estivesse  inscrito no  enunciado de maneira  estável. Ao  contrário,  ele saberá que, pelo fato mesmo de o enunciado não apresentar um sentido estável, completamente predeterminado pelo enunciador, terá de assumir ativamente a interlocução, consciente de que o sentido se constrói por meio da relação entre interlocutores.
É necessário que os estudantes visem à construção de hipóteses que possibilitem saber reconhecer os elementos que atuam para a adequada compreensão do enunciado. Entende-se que a competência lingüística, por  si  só,  não  é  suficiente. As  tarefas  devem  visar  à  construção  de ferramentas para a  compreensão do gênero. É nessa premissa que  se fundamenta nossa proposta de tarefas de leitura e produção de texto a  partir da noção de gênero do discurso.