quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

RESUMO LINGUA PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO II - AP1

RESUMO LINGUA PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO II - AP1
RESUMO ELABORADO A PARTIR DOS TEXTOS DE CLAUDIA CAPELLO E MARISTELA BOTELHO FRANÇA.

Resumo de Língua Portuguesa 2 – Aulas 1 a 15


AULA 1 - RETOMANDO A FORMAÇÃO DO ALUNO LEITOR

Nas salas de aula do Brasil, prossegue o autor, as atividades de leitura, geralmente, são fragmentadas da seguinte forma:

1) o texto é distribuído; os alunos esperam o próximo passo(alguns já o lêem, mas também esperam);

2) o professor pede que leiam; os alunos lêem e esperam (alguns não lêem, apenas esperam o próximo movimento);

3) o professor pede que alguns digam sobre o que foi lido; alguns o atendem e todos esperam o próximo passo;

4) o professor pede que produzam um texto; os alunos passam a escrever um genérico texto e esperam o próximo passo (alguns se recusam a escrever; preferem apenas esperar) (PIVOVAR, 2002, p. 100).


LEITURA DIALÓGICA: ALUNO LEITOR = ALUNO AUTOR

Todo aluno-leitor é, ao mesmo tempo, autor. Ao interpenetrar um texto, ele o faz articulando o dito com ditos anteriores armazenados em seu conhecimento de mundo, lingüístico, e de gêneros do discurso, atribuindo-lhe novo significado na instância da leitura.

O ato de compreender é um ato de inserção, isto é, de inclusão de um sujeito em uma cadeia dialógica mais ampla. Analisando esse ponto de vista, verificamos, novamente, que a palavra é a ponte entre o aluno e a cidadania.

Como você estabelece a relação entre a idéia de compreensão responsiva e a construção de cidadania?

Em debate alguns autores:

O primeiro, é MIKHAIL BAKHTIN, nos mostra que compreender textos é um processo em que estão presentes, tanto as palavras desse texto, quanto o nível de entendimento sobre elas, articuladas naquele contexto (significando ali, naquela produção textual) e levando em consideração, ainda, a visão social de mundo (valores, representações, costumes) e a visão que o outro (o autor do texto ou o seu enunciador) constrói sobre o modo de compreender e ver as coisas.

O leitor toma atitudes diante do que lê, no sentido de explorar a complexidade de seu conteúdo (no plano do dito e do não-dito) e de responder às questões que daí surgem.



UMA VISÃO AMPLIADA DE TEXTO

As práticas de leitura que se baseiam na diversidade de linguagens, de autores e de suportes são aquelas que mais contribuem para a autonomia do leitor, na medida em que essas práticas o ajudam, diante da pluralidade de suportes, construções de enunciados e de sentidos possíveis, a fazer escolhas e a tomar posição a partir de critérios que se sustentam não apenas no plano lingüístico, mas também no plano das correlações não-verbais, imagéticas e sensoriais.



AULA 2 - LINGUAGEM E LÍNGUA: CADA COISA NO SEU LUGAR



A LINGUAGEM COMO FACULDADE MENTAL

Linguagem é uma faculdade mental, ou seja, é uma habilidade que se desenvolve no ser humano. Antes de aprendermos a usar as palavras, nos expressamos a partir de outros códigos, que nos permitem estabelecer uma comunicação com o mundo. Mais tarde, aprendemos a utilizar a linguagem verbal. Essa linguagem permite ao homem estabelecer uma forma refinada de comunicação, que só é possível graças à sua capacidade de desenvolver e dominar sistemas de signos.

O domínio de um código verbal – que é o nosso sistema de signos lingüísticos – é fruto de um funcionamento intelectual que nos leva a uma importante conclusão: o desenvolvimento da linguagem está estreitamente ligado ao desenvolvimento intelectual e à estruturação do próprio pensamento.

Vigotsky nos mostra que o ser humano, nos primeiros anos de vida, utiliza a fala para se relacionar com o mundo que o cerca. Com o passar do tempo, vai ampliando as estruturas lingüísticas, tanto na fala quanto no pensamento, mas a função social da fala já existe naquele primeiro momento, que podemos considerar como sendo a base pré-intelectual do seu desenvolvimento.



LINGUAGEM E LÍNGUA

Nos processos de comunicação, utiliza-se um veículo comum para estabelecer, de fato, a comunicação. Esse veículo comum é o que estamos chamando de código.

Os códigos podem ser verbais e não verbais.

O código verbal são normas que permitem a comunicação entre os usuários dessa língua. Os códigos não verbais, por sua vez, são aqueles que não estão associados a signos lingüísticos. Eles podem ser imagens, desenhos, fotos, símbolos, gestos, enfim, tudo quanto possibilite uma leitura de mundo. Assim, podemos dizer que linguagem é uma manifestação que se desenvolve no sentido de estabelecer a comunicação, enquanto a língua é uma forma de linguagem.

A língua constitui-se de um sistema de signos, comum a um determinado grupo social, que pela prática da fala e da escrita passa a existir. Assim, a língua é, ao mesmo tempo, um fato social e um ato individual.

A língua possui uma natureza mutável, já que evolui com o passar do tempo, em função do seu uso por diferentes comunidades lingüísticas. Essa característica faz da língua a principal manifestação da faculdade da linguagem.



LÍNGUA ORAL E LÍNGUA ESCRITA

A função social da língua se concretiza a partir da fala, que é a manifestação lingüística que supre as necessidades mais imediatas da comunicação.

Os gestos, a expressão facial, a entonação formam um conjunto de apoio para a efetivação da compreensão, que vai desaparecer no uso da escrita.

A língua escrita não é uma mera transcrição do que se fala. Podemos mesmo considerar a língua escrita como um instrumento fundamental na estruturação do pensamento reflexivo, em função do nível de organização e elaboração intelectual que exige, já que é uma manifestação somente pensada da linguagem e que trabalha no nível das representações mentais.

Se a língua oral possibilita um contato imediato, a língua escrita concorre de forma determinante para a manutenção de uma forma de manifestação da identidade cultural de um povo.



AULA 3 - PENSANDO A LÍNGUA EM TERMOS DE ESTRUTURA I



SIGNIFICADOS DA PALAVRA ESTRUTURA

Dicionário Aurélio: ESTRUTURA é...

1. Disposição e ordem das partes de um todo.

2. Disposição e ordem de uma obra literária; composição.

3. O conjunto das partes de uma construção que se destinam a resistir a cargas; armação, esqueleto, arcabouço.

4. Sistema que compreende elementos ordenados e relacionados entre si de forma dinâmica.

A Lingüística é uma ciência da linguagem e o modo de relacionar língua e estrutura é resultante de um posicionamento epistemológico em face dessa ciência; ou seja, é fruto de um posicionamento sobre como se constrói o conhecimento sobre a natureza, o funcionamento e o uso da linguagem.



LÍNGUA COMO SISTEMA DE SIGNOS OU “UNIDADES ABSTRATAS”

O signo, é definido como a associação entre significante (imagem acústica) e significado (conceito). Nesse aspecto, é fundamental observar que a imagem acústica não se confunde com o som. Isso porque, assim como o conceito, ela é psíquica e não física.

Se você comparar a imagem que reproduziu em forma de desenho com a que fez essa outra pessoa, notará diferenças. De acordo com a teoria de Saussure, porém, essas diferenças – assim como aquelas que poderão ser observadas no modo de pronunciar a palavra – não importam, pois será sempre o mesmo significado de “casa” ou “árvore” que virá à mente, quando se pronuncia ou se ouve essas palavras. O laço que une o significante ao significado é arbitrário, convencional e imotivado. Não existe motivo para que “carro” se chame “carro”. Mas uma vez que se atribua esse nome, ele passa a ter um valor na língua e a ser associado, no nosso cérebro, com idéia de carro, e não se pode chamar “carro” de “barco”. Na teoria de Saussure, esse sistema de signos, que é a língua, é formado de unidades abstratas e convencionais.

As relações são estabelecidas entre as intenções e o querer dizer das pessoas expresso pelo modo como elas se apropriam das palavras da língua.

Saussure faz distinção entre língua e fala. Para o lingüista, a língua é um sistema abstrato, um fato social; a fala, ao contrário, é a realização concreta da língua pelo sujeito, sendo, por isso, circunstancial e variável.



SISTEMA, ESTRUTURA E ESTRUTURALISMO: UM POUCO

DE HISTÓRIA

Segundo a tendência Positivista, para que um estudo ganhe o estatuto de ciência, é preciso que seu objeto seja passível de uma observação objetiva e sistemática a fim de, posteriormente, ser substituído por uma visão racional que constitui o principal caráter do espírito positivo.

Com Saussure, a Lingüística ganha um objeto específico – a língua (separada de seu uso, ou seja, da fala) – cuja organização interna, reconhecida como um sistema de relações, atende a esse requisito de objetividade. Essa organização interna – sistema fonológico, morfológico e de signos – será aquilo que seus sucessores chamarão de estrutura, com a finalidade de enfatizar a idéia de que cada elemento da língua só adquire um valor quando se relaciona com o todo de que faz parte.

Os métodos em que estruturas são exploradas através de exercícios de vocabulário, de gramática, de compreensão oral e escrita, em que a língua, explícita ou implicitamente, é vista apenas como um código; ou seja, é entendida como um conjunto de signos que se combinam segundo regras, para que se possa transmitir uma mensagem, isto é, informações de um emissor a um receptor.

Desse modo, muitas vezes, no ensino da Língua Portuguesa, o trabalho com as estruturas lingüísticas separa a língua das pessoas e de um contexto social, afastando da prática pedagógica a possibilidade de contribuir para a formação do aluno cidadão.






AULA 4 - PENSANDO A LÍNGUA EM TERMOS DE ESTRUTURA II



CONCEITUANDO “IDEOLOGIA”

A palavra ideologia pode ser definida como sinônimo de “falsa consciência”, isto é, como idéia ou idéias que, pertencendo a apenas uma classe, a dos donos do poder, visam a controlar os governos e as instituições. Ideologia como idéias, cujo efeito é de “mascaramento do real”.

A busca por uma forma de racionalização, isto é, por uma forma convincente de justificar o domínio exercido por uma classe ou grupo dominante representa um dos significados com o qual o termo ideologia pode ser associado. Nesse sentido, ideologia se opõe à ciência e ao pensamento crítico.

Léo Lince pode nos levar a ampliar a visão sobre o significado de ideologia:

A ideologia dominante nestes tempos de eclipse do processo civilizatório é a ideologia da “desideologização”, ou seja, a ideologia que rejeita qualquer corpo de idéias que aspire, pela via do convencimento democrático, ordenar a vida social de uma maneira distinta daquela que serve aos desígnios e domínios de uma elite.

Essa possibilidade de a palavra ideologia poder ser compreendida em sentido restrito ou negativo.



SIGNO IDEOLÓGICO, ENUNCIADO, TEXTO

E INTERAÇÃO VERBAL

Na acepção que define ideologia como um conjunto de idéias, princípios e valores que refletem uma visão de mundo, orientando uma forma de ação.

A linguagem é vista como um sistema de signos ideológicos de caráter dialógico. A teoria dialógica, já nas primeiras décadas do século XX, o estudo de Bakhtin problematiza a relação linguagem e sociedade.

Para Bakhtin, o signo se constitui como uma atitude de uma pessoa em relação a algo e, para ser compreendido, exige também uma atitude-resposta (dialógica) de um outro indivíduo. Assim sendo, segundo essa concepção, o signo não se limita a encontrar seu sentido na relação que o opõe a um outro no interior do sistema lingüístico. A noção de signo configura-se ideologicamente, isto é, todo signo apresenta valor de cunho social e está fundado no ato humano.

Essa constituição do signo (ideológico), sob a base de princípios e valores pessoais e sociais, desencadeia possibilidades que refletem e refratam visões de mundo, diferentes modos de agir, diferentes relações humanas empreendidas. A constituição parcial e a compreensão dos signos acontecem no processo de interação verbal, em que as pessoas realizam um exercício de aproximação entre o signo em observação e outros já conhecidos.

Enquanto em certas abordagens estruturalistas, a língua é tomada como único objeto cuja gramática (em geral, normativa) deve ser ensinada, na abordagem de linguagem de orientação bakhtiniana, o foco recai sobre o enunciado, visto como unidade real da comunicação (não como uma convenção) que pode se constituir tanto sob a forma de trocas verbais como não-verbais.

A linguagem deve ser entendida, como uma atividade dialógica que se funda na interação verbal. Nela, um locutor, a partir de um sistema de signos ideológicos, vai dialogar com os signos de um outro locutor por meio de um processo dinâmico que envolve aspectos verbais (modos de apropriação da língua) e não-verbais.





GÊNEROS DE DISCURSO: AS ESTRUTURAS NOS USOS DA LÍNGUA

De acordo com a perspectiva bakhtiniana que escolhemos apresentar, a linguagem não prevê a autonomia nem da estrutura nem do falante. A linguagem é uma construção dialógica dinâmica em que sempre atua uma memória histórica (a partir de experiências de mundo e de conhecimentos prévios, compartilhados entre as pessoas no plano lingüístico e textual). A observação dos usos da língua permite que apreendamos uma certa estruturação no movimento de construção dessa historicidade, decorrente das particularidades do processo interacional e das especificidades das condições concretas em que os enunciados se realizam (bula de remédios, revista em quadrinhos, propaganda, letra de música etc.).

É preciso que se conheçam e que se explorem, em sala de aula, a dinâmica existente entre significado e tema, bem como entre gênero do discurso e estilo. Na relação dinâmica que se

estabelece entre essas noções reside, na teoria de linguagem que acabamos de apresentar, a relação entre o nível do sistema de normas que regem os gênero de enunciados humanos e o nível das atualizações que ocorrem nas situações de uso, daquilo que pertence à história do desenvolvimento dos ditos.



AULA 5 - USO DA LÍNGUA1 – QUANDO O SENTIDO É... SENTIDOS



A teoria dialógica da linguagem, por exemplo, propõe uma distinção entre significado e tema. A significação, corresponde aos elementos que são repetidos no ato enunciativo. Já o tema constitui-se no próprio ato, é único, não-reiterável e construído a partir de correlações que possuem uma história.

A idéia de significação e tema são instâncias que vivem interdependentemente no ato enunciativo ou na enunciação. O tema depende da significação e vice-versa.

O aspecto lingüístico do enunciado somente é considerado na relação com o tema. O que seriam as “mesmas palavras” tem significado diverso, ganhando vida a partir de diferentes orientações sociais, criadas no processo enunciativo, que apontam para diferentes aspectos como diferentes interlocutores, diferentes intenções, situações etc.

“Somente a enunciação tomada em toda a sua amplitude concreta, como fenômeno histórico, possui um tema. (...) O tema é um sistema de signos dinâmico e complexo (...) A significação é um aparato técnico para a realização do tema.” (BAKHTIN, 1929/1988, p. 129)

O tema, é importante que o aluno vise ao sentido contextual e histórico de uma dada palavra, nas condições de uma enunciação concreta. O estudo de significação, deve recorrer à pesquisa do sentido da palavra no sistema da língua. Encontrar um sentido possível é identificar esses dois níveis e estabelecer relação entre eles em uma situação concreta, formulando a questão sobre como se está construindo esse sentido no enunciado. Essas considerações parecem explicar por que razão, mesmo falando uma mesma língua, em uma mesma região, às vezes, acontece não sermos entendidos do modo como queríamos.

No processo de construção de sentido, nosso interlocutor, com base em elementos histórico-sociais, aciona uma “memória discursiva” que pode levá-lo a construções temáticas diferentes daquelas que imaginamos alcançar.

Uma prática comum no ofício de professor: a elaboração de enunciados de prova e as correções efetuadas. Devemos ter cuidado na elaboração de questões. O significado das palavras em si não são garantia para orientar o aluno na direção da resposta certa. Por essa razão, a correção deve ser dialógica, no sentido de levar o aluno a rever a construção que fez no plano do tema. Essa conduta, além de tirar o desconforto vivido pelos alunos com respeito à incoerência do professor de português, poderá levá-lo a testar hipóteses sobre o sentido que está construindo, revendo suas escolhas no plano do significado das palavras.






AULA 6/7 - USO DA LÍNGUA 2 – QUANDO A ESTRUTURA GANHA FOCOS DIFERENCIADOS – FUNÇÕES DA LINGUAGEM



ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO

É importante termos sempre claro que a efetivação da comunicação só ocorre na medida em que há entendimento do que se diz. Esse entendimento, é o resultado do processo de comunicação. Esse processo, por sua vez, precisa de alguns elementos para acontecer. São os já conhecidos elementos da comunicação.

A comunicação se processa a partir da existência de um emissor – aquele de quem parte a intenção comunicante – , que destina sua mensagem – a própria essência do que será comunicado – a um destinatário – aquele que recebe a mensagem. Essa mensagem chega ao destinatário através de um canal – que é o meio utilizado para enviar a mensagem: o telefone, a internet, a carta – , registrada num determinado código – um sistema organizado, como o verbal, no caso da língua – e gerada num determinado contexto (referente) – que é a referência da mensagem.



FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Karl Bühler, apontava três funções da linguagem: a representativa, em que a informação objetiva predomina; a expressiva, que dá ênfase ao emissor da mensagem; e a apelativa, que centra seu foco no destinatário.Mais tarde, o esquema desenvolvido por Bühler foi ampliado pelo lingüista Roman Jakobson, que manteve as funções apontadas por aquele, mas deu-lhes nomes diferentes, e acrescentou mais três.

A referencial, que enfatiza o contexto, ou referente; a emotiva, centrada no emissor; a conativa, focada no destinatário; a fática, que dá relevo ao canal; a poética, que privilegia a mensagem; e a metalingüística, que dá prevalência ao código.

As funções não ocorrem exclusivamente em cada discurso, isto é, várias ou todas podem estar presentes em determinado enunciado. O que geralmente acontece é a predominância de uma delas. Isso vai ser observado mais especificamente de acordo com a intenção do discurso emitido.

Gillian Brown e George Yule, chegaram a duas funções da linguagem. A divisão por eles feita mostra uma preocupação com o fato lingüístico, sob a perspectiva de sua ocorrência e de sua propriedade dinâmica. Essa preocupação resultou numa divisão que separa as funções da linguagem de maneira mais abrangente:

1- Transacional

2- Interacional aquela que expressa relações sociais e atitudes pessoais.

Podemos dizer que a função transacional é centrada numa perspectiva cognitiva, enquanto a interacional tem um caráter pragmático. Esse caráter pragmático é o que leva em conta a atuação da língua sobre o destinatário, dentro de um determinado contexto. Vários são os elementos lingüísticos capazes de atuar no receptor da mensagem: o léxico, ou seja, a seleção vocabular; a construção sintática; os recursos estilísticos; as estratégias semântico-pragmáticas. Cada um desses elementos tem uma atuação específica, com um objetivo determinado.

Do ponto de vista do uso lexical, a escolha de uma determinada palavra pode alterar a recepção da mensagem.

Quando se trata da ótica sintático-estilística, a arrumação das palavras numa frase revela a intenção do falante, que busca dar mais ênfase em determinada informação.

As estratégias semântico-pragmáticas estão diretamente relacionadas à necessidade de persuasão. Tem uma forte ligação com a capacidade de argumentação do emissor. Há várias maneiras de se obter o efeito persuasivo num determinado enunciado. Nesse sentido, os atos discursivos nem sempre são diretos. Eles podem lançar mão de vários recursos para enunciar uma mensagem.

Resumo de Língua Portuguesa 2 – aulas 8,9/10,11,12 e 13


AULA 8 - USO DA LÍNGUA 3 – A ORALIDADE E O TEXTO: VÍCIOS DE LINGUAGEM?



Barbarismo é o nome que a gramática dá a um determinado vício de linguagem, como o cometido na situação ilustrada. A definição de barbarismo é todo desvio da norma que ocorre em alguns níveis do uso da língua: o da grafia, o da pronúncia, o da morfologia e o da semântica.



Dependendo do nível em que o desvio ocorre, a mensagem pode ou não ficar prejudicada.

Com relação ao desvio morfológico, pode acontecer de o destinatário não identificar com clareza sua intenção comunicante – ou porque você utilizou uma forma absolutamente incompreensível, ou porque, ainda que compreensível, ela se confunde com outra. Nesse caso, pode haver o comprometimento do processo de comunicação. Esse comprometimento fica ainda mais sério quando o desvio ocorre no nível semântico. Nesse caso, estamos diante do que chamamos de “paronímia”, ou seja, palavras muito parecidas, mas com significados diferentes, que podem ser usadas inadequadamente.

Expressões antigas, chamamos “arcaísmo”. O arcaísmo é outro “vício de linguagem” identificado pela gramática, e podemos considerá-lo um dos candidatos ao prejuízo do processo comunicativo. Não se trata de desqualificar o falante, mas de impedir que o interlocutor receba a mensagem, pois não se pode exigir que as pessoas conheçam vocábulos que a língua já abandonou.

Freqüentemente colocamos o sujeito depois do verbo. Esse desvio não compromete a comunicação. Por outro lado, ela pode funcionar como um fator de desqualificação do falante.

Tudo depende, também, da adequação a um determinado contexto daquilo que se fala. Numa conversa informal, esse deslize pode passar despercebido. Entretanto, num texto formal, ou mesmo numa situação de oralidade em que a formalidade deve ser levada em conta, ele depõe contra o emissor...

O “solecismo” inclui desvios na sintaxe, como concordância, regência e colocação de pronomes. Em nenhuma das três situações há comprometimento da mensagem.

O “cacófato” ocorre sempre que juntamos duas ou mais palavras da frase, produzindo um som desagradável. Deve-se evitar o cacófato, mas ele não compromete o processo de comunicação. É uma ocorrência eminentemente fonética, ou seja, da ordem do som das palavras.

“Eco”, um vício de linguagem resultante da dissonância que o uso de terminações iguais ou semelhantes pode causar.

“redundância”, caracterizada pela repetição desnecessária de uma informação. É aquela construção que, sem perceber, utilizamos, mas identificamos imediatamente quando ouvimos.

Há utilizações mais complexas, em que a redundância fica mais sutil, e, por isso mesmo, causa a impressão de que o emissor está querendo “enrolar”... Contudo, não há prejuízo para a mensagem.

Quando o que se diz gera confusão e admite mais de uma interpretação, dizemos que temos um enunciado com ambigüidade. Esse vício de linguagem pode ser um impedimento à compreensão de uma mensagem. A ambigüidade, portanto, é um dos vícios de linguagem cuja ocorrência é fatal no processo de comunicação.

Obscuridade acontece quando a mensagem fica difícil de ser entendida por problemas em sua construção.

Assim como a ambigüidade, a obscuridade é um empecilho ao processo comunicativo.



AULA 9/10 - USO DA LÍNGUA 4 – QUANDO O ESTILO ENTRA NO DISCURSO – ALGUMAS ESTRATÉGIAS


Há um sem-número de estratégias estilísticas, ligadas, sobretudo, aos textos literários.

São procedimentos discursivos capazes de diferenciar a fala de quem os utiliza e, principalmente, de dar mais ou menos relevo a determinadas informações, o que faz com que seus enunciados obtenham um resultado especial, de acordo com objetivos preestabelecidos.

Assim como os chamados “vícios de linguagem”, as estratégias são também “desvios” em relação à língua considerada padrão – a já tão falada norma-padrão. Só que, agora, esses “desvios” são provocados pelo usuário, ou seja, ele até conhece a norma-padrão, mas quer criar um discurso mais expressivo, diferente, novo, e o faz através desses desvios, que se convencionou chamar “figuras de linguagem”.

Metáfora É uma forma de criar uma identificação entre dois elementos, partindo do significado de um deles para emprestá-lo ao outro. Pode acontecer de nos depararmos com metáforas que nem sempre somos capazes de compreender, uma vez que a relação de similaridade não nos fica clara. Isso pode, inclusive, ser parte de uma estratégia discursiva. Muitas vezes, falando por metáforas, garantimos que apenas alguns vão captar o que estamos querendo dizer.

A metáfora, muito presente em textos literários, faz parte, também, de nosso cotidiano. Podemos usar metáforas tanto em textos formais como em situações informais. É uma estratégia estilística que se estende à fala, não estando restrita à escrita.

Uma forma muito conhecida de metonímia é transformar a marca de um produto em seu nome, fazendo com que esse produto passe a ser conhecido pelo nome da marca, que vira, nesse momento, um substantivo comum. Há, ainda, uma outra forma de utilizar essa estratégia estilística. Pode-se dizer que é uma maneira mais lírica, bastante ligada aos textos literários. É quando usamos uma palavra com o significado de outra em razão de uma relação de proximidade entre aquilo que elas significam.

A música de Oswaldo Montenegro “Canta uma canção bonita, falando da vida em ré maior/ canta uma canção daquela de filosofia e um mundo bem melhor”... Como música que é, parte de uma letra lírica, que, por si só, já tem uma série de implicações significativas. O efeito obtido com a repetição da idéia expressa pelo verbo cantar e pelo substantivo canção é o de ênfase na ação que o poeta quer passar. Ao dizer canta uma canção, ele emprega duas palavras do mesmo campo semântico, cujos significados são repetidos. Não é uma redundância, mas um pleonasmo.

O eufemismo, tem como objetivo atenuar, suavizar uma informação ou uma expressão chocante, desagradável, impactante.

Hipérbole, uma figura que consiste em se expressar, por meio do exagero, uma determinada idéia. O exagero da expressão enfatiza a sensação que a falante quer transmitir. Essa estratégia é largamente utilizada em todo tipo de situação comunicacional, desde o texto literário até as conversas mais informais. Fica claro que a opção por uma fala que lance

mão da hipérbole identifica o falante como alguém muito expressivo, que gosta de enfatizar o que diz. Na literatura, ocorre algo semelhante. A opção por uma expressão hiperbólica tem o objetivo da ênfase, e estará vinculada à intenção significativa que o texto traz consigo.

A antítese tem como efeito um impacto sobre o ouvinte/leitor, na medida em que explicita a relação de oposição que as idéias confrontadas carregam. Esse procedimento não é uma exclusividade da literatura – embora seja largamente utilizado nesse âmbito – mas uma possibilidade a qualquer ato de fala. O que se mantém é o objetivo de impactar, que tanto existe no texto literário quanto na fala ou na escrita informal. A antítese, contudo, é muito confundida com uma outra figura de linguagem – o paradoxo.

àAntítese é o confronto de idéias opostas.

àParadoxo é a utilização de idéias opostas como se fossem equivalentes.

Paradoxo é fruto de um objetivo diferente: o de criar um estranhamento, de modo a permitir um alargamento de sentido que a antítese não exige.

A ironia é uma figura de linguagem em que uma palavra ou expressão ganha significado oposto ao que normalmente se atribui a ela. Também consideramos ironia não apenas a utilização de palavra ou expressão que tenha o objetivo do deboche, mas qualquer situação em que a intenção é de sátira.

Na fala, a ironia ganha um relevo diferenciado, pois, geralmente, vem acompanhada de expressões faciais e de recursos gestuais que denunciam a intenção comunicante do usuário.

Na literatura, a ironia tem um efeito corrosivo, isto é, ao suscitar o riso como resultado de seu emprego, ela desestrutura verdades até então tidas como inquestionáveis.

Quando fazemos concordâncias, que na verdade se efetuam com palavras ou idéias pressupostas, mas não explícitas, no enunciado, estamos lançando mão da silepse. A silepse, portanto, consiste em concordâncias com termos que deduzimos existir na frase, deixando de lado os que de fato estão ali. A silepse não se restringe ao uso literário.



AULA 11 - USO DA LÍNGUA 5 – QUANDO A LEITURA FAZ O DISCURSO –O TEXTO PUBLICITÁRIO



O texto publicitário é, na verdade, a conjugação de tipos diferentes de texto, e a leitura dessa congeminação textual é que vai gerar sentidos. Portanto, o leitor, ou receptor da mensagem, será o construtor daquilo que estará sendo dito. Isso permite dizer que há vários níveis de entendimento num texto publicitário – como, aliás, acontece com os textos, de um modo geral.

A instrumentalização dos recursos que vimos nas aulas anteriores permite que se chegue a diferentes objetivos, ou, no mínimo, que se obtenha efeitos diversos.

Todos níveis de leitura dependem de informações prévias que o leitor pode ou não ter.

Quanto mais profunda a leitura, maior o nível de domínio da informação.

Em muitos casos, a leitura faz o discurso, o texto publicitário é um exemplo.

Uma vez que se dirige ao leitor, instiga-o, provoca-o, e quer convencê-lo da qualidade e da veracidade daquilo que veicula, e, para tanto, lança mão de diversos recursos. Esses recursos criam níveis possíveis de leitura, e, para cada leitor, uma possibilidade nova se concretiza. Por isso dizemos que o discurso será construído pela geração de sentidos que a leitura empreenderá.



AULA 12 - USO DA LÍNGUA 6 – QUANDO A LEITURA CANTA E ENCANTA – O TEXTO DE LETRAS DE MÚSICA



A música – considerada também uma manifestação da linguagem – pode servir a determinados objetivos da comunicação e está estreitamente ligada ao processo de aquisição da cidadania e da construção de uma identidade cultural. É importante lembrar que a linguagem, como faculdade mental, tem várias manifestações possíveis. O mesmo se pode dizer a respeito da música.

Ao escutar uma canção em outra língua que não seja a nossa, e que você não compreenda, a música passa a determinar, de certa forma, o significado intuído do que você está ouvindo. Desse modo, se o ritmo é de rock and roll no estilo heavy metal, a tendência é imaginar que a letra não tem relação com uma canção romântica, por exemplo. Do mesmo modo, se a música é lenta, com um instrumental clássico, imediatamente associa-se a canção com uma história de amor.

Isso ocorre porque relacionamos a manifestação representada pela música com uma forma de expressão de sentimentos, o que, de fato, é verdade. A letra de uma canção é uma mensagem e faz parte de um processo de comunicação, com objetivos que podem estar claros ou não. Tudo vai depender da intenção que permeia esse processo e do contexto em que ele se desenvolve.

O momento histórico, assim como a experiência pessoal, o contexto, o ambiente, o corte social, todos esses fatores estão relacionados à composição.

Também é relevante observar quem consome qual tipo de canção. Esse tipo de observação pode nos ajudar a compreender melhor o processo de construção da identidade cultural a partir da música.

O processo de comunicação, no caso das letras de música, está também associado ao ritmo, e os recursos lingüísticos de que dispomos podem fazer uma grande diferença na transmissão da mensagem.



AULA 13 - USO DA LÍNGUA 7– A LEITURA PARA ALÉM DOS BANCOS ESCOLARES



A vida prática, o nosso dia-a-dia, pressupõe a capacidade de decodificar uma série de textos que nos cercam e que fazem parte da realidade social em que estamos inseridos. Não se trata de ler um livro ou de ouvir uma música como forma de entretenimento ou alargamento do universo cultural. Trata-se de vivenciar o cotidiano de maneira independente, sem que seja necessário um mediador para possibilitar atividades básicas, como locomoção, alimentação, tratamento de saúde.

Nesse sentido, podemos considerar que desenvolver as habilidades de leitura é uma questão de sobrevivência.

Menos crítica, embora também grave, é a situação dos cidadãos considerados alfabetizados – porque são capazes de juntar letras – , mas inaptos a realizar uma leitura plena de um texto, qualquer que seja ele. Essa ausência do letramento – que não pode ser confundido com a simples alfabetização – acaba por transformar esse cidadão em uma espécie de estrangeiro em sua própria terra.

Sabendo que letramento é a capacidade de estabelecer a comunicação a partir do domínio de diferentes códigos, podemos afirmar, sem susto, que o cidadão não letrado corre o risco de ficar à margem do processo sociocultural. Assim, a aquisição das estruturas lingüísticas, que é uma das manifestações da linguagem, passa a ser uma questão com implicações para além dos bancos escolares. Mais do que ler plenamente um texto literário, é necessário que o usuário da língua possa decodificá-la de forma proficiente em todas as situações que fazem parte de sua vida.

Há palavras que não são compreendidas porque simplesmente não fazem parte da realidade de muitos dos usuários da nossa língua, seja do ponto de vista do uso, seja do ponto de vista da vivência.

Há palavras que não são entendidas porque, embora nomeiem objetos conhecidos dos usuários, são substituídas por sinônimos, e há outras que não são conhecidas porque nomeiam coisas com as quais esse usuário jamais teve contato. Assim, temos dificuldades diferentes: uma, de ordem estritamente lingüística, que diz respeito ao desconhecimento da palavra; outra, de ordem socioeconômica, que está relacionada às questões sociais que explicam o fato de um cidadão não conhecer, por exemplo, o prato da culinária italiana.

Ao percebermos que uma receita culinária ou uma bula de remédio, por exemplo, podem se tornar um desafio para alguém, estamos reiterando a idéia de que a leitura de mundo não pode ser confundida com o simples “juntar letras.” Enquanto aceitarmos, como professores, um ensino descritivo da língua portuguesa como informação suficiente para o domínio dessa mesma língua, estaremos insistindo num equívoco – quando não num engodo – que só entrava a conquista da plena cidadania.

AULA 14 1 15 – EXERCÍCIOS

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